terça-feira, 12 de maio de 2009

Sexo, amor e corpo sem medo

Nas últimas semanas tenho pensado muito na relação que existe entre o amor e o desejo. Como podem ou não ser exclusivos, e como a nossa sociedade tenta permanentemente encontrar uma estrutura que nos permita gerir algo tão pouco "racional" e "ilmuminado".

Por razões que não me interessa agora abordar julgo termos chegado ao momento mais elevado da nossa castração sexual.

Nesse sentido, só conseguimos tender para duas dimensões diametralmente opostas, ou iguais: o liberalismo sexual extremo (e nesse sentido desconectado, infantil e irresponsável), ou a profunda preservação do corpo ao ponto de ignorar o que sentimos e somos (e nesse sentido infantil, irresponsável e desconectada).

Lidamos muito mal com o corpo e com os sentimentos que este nos desperta. Todos sabemos que existem mil regras sociais para o que é aceite ou não. E que essas mesmas regras provocam por si tantos comportamentos desviantes. Mas na realidade este é um mundo colorido. Homosexualidade, polisexualidade, sozinho ou em grupos, com ou sem adereços: na criatividade há um mundo de possibilidades.

Mas o problema é que nem conseguimos lidar com coisas tão simples como uma atracção (física, emocional, sentimental). Frases como: "estou a brincar", ou "mas sou comprometido", ou "mas ela é casada" são tantas vezes usadas como algema para a castração da nossa libido, ou até da curiosidade. A monogamia acaba por ser imposta e não conquistada. Não há espaço para a descoberta. E depois casamos, descasamos, traímos e somos traídos, temos filhos e deixamos de os ter. Temos amantes, namorados, affairs, esposas ou companheiros.

Por outro lado, ainda há uma noção quase "burguesa" que o amor verdadeiro só aparece uma vez e só se pode incidir sobre uma pessoa. E sobre isso (na série Bones):

Angela Montenegro: Tu tens esta noção burguesa...
Dr. Lance Sweets: Burguesa?
Angela Montenegro: ...que para o amor ser real ele tem de ser permanente. Não há nada permanente. Isto é um facto. Começamos e deixamos de amar outras pessoas, mas isso não faz o amor ser menos real.
Dr. Lance Sweets: Mm-hmm, talvez estejas a dizer isso porque nunca encontraste o amor da tua vida.
Angela Montenegro: Sim encontrei. Várias vezes.

Neste sentido acredito que o amor não é nem permanente, nem exclusivo por defeito. Ele só o pode ser por construção, por escolha, e por caminho percorrido (somos realmente uma sociedade sem noção da importância do trabalho e dos limites). Mas se não nos atrevemos a fazer as perguntas, a experimentar as respostas e a descobrir o nosso sentido que garantia temos de encontrar a felicidade?

Não sou a favor da irresponsabilidade sexual, mas acredito que o processo de auto-conhecimento do corpo, e o diálogo que ele exige, é fundamental para a evolução da humanidade. Dialogar, com palavras ou acções sobre o corpo, o sexo, as pilas e as vaginas, partilhar o que gostamos e o que tememos, o que queremos experimentar, vive tantas vezes aprisionado pela razão, pela vergonha ou pelo medo, que nunca conseguimos chegar a descobrir o que somos, e o que queremos.

O nosso corpo é expressão maravilhosa da nossa alma, e a sua aventura torna-nos maiores.

Por isso o diálogo é preciso, sem certo, nem errado, e com coragem de experimentar, de ser responsável e sensato nas suas descobertas, e na procura do que nos dá prazer e quais são os limites que isso encerra.

Isso é amor por nós!

segunda-feira, 11 de maio de 2009

Amor

Sobre o amor é muito interessante ver duas personagens de uma série dizerem coisas que considero tão pertinentes:

"Bones: The Skull in the Sculpture (#4.7)" (2008)
Dr. Lance Sweets: [Sitting together at a restaurant over dinner helping Angela work out her feelings and how she should go about her pursuing a her relationship with Roxie] It's exactly the same situation as the last time you were sitting here. Except, you know, you're quieter.
Angela Montenegro: No, that was about Hodgins. This is about Roxie.
Dr. Lance Sweets: [Loudly] You want to have sex with Roxie!
Angela Montenegro: What was that about quieter?
Dr. Lance Sweets: I'm sorry, I'm not certain you're being guided by your brain, that's all. Need can be confused with love. Fantasy can convince us that what we are feeling is love.
Angela Montenegro: So, you're saying is that this is all rebound?
Dr. Lance Sweets: Yeah.
Angela Montenegro: No, you don't understand love, Sweets.
Dr. Lance Sweets: I'm not as innocent as you might think.
Angela Montenegro: You have this bourgeois notion...
Dr. Lance Sweets: Bourgeois?
Angela Montenegro: ...that in order for love to be real it has to be permanent. Nothing is permanent. That's just a fact. We move in and out of loving other people, but that doesn't make the love any less real.
Dr. Lance Sweets: Mm-hmm, perhaps you're saying this because you haven't met the love of your life.
Angela Montenegro: I have actually. Many times.
Dr. Lance Sweets: Fine. It seems to me that you always leave yourself an escape hatch in your relationships, because you afraid of commitment.
Angela Montenegro: Nice try. But no. Actually, I commit to every person I love.
Dr. Lance Sweets: You marry a man and then conveniently forget that you married him because you got zonked on Kava Kava. That compromises your relationship with Hodgins so that ends, along with the marriage. Now you say you have these intense feelings for an ex-lover whose heart you've already broken. Don't you see the potential disaster here?
Angela Montenegro: Look, you said that, without the possibility of pain, there can be no joy, no real love.
Dr. Lance Sweets: I said that? That's beautiful.
Angela Montenegro: Look... I don't want to hurt Roxie again.
Dr. Lance Sweets: Then Don't. Don't. Put her welfare first. Let Roxie decide if she's ready to pursue this relationship.
Angela Montenegro: Okay. And what if she doesn't?
Dr. Lance Sweets: Then I'm afraid you'll have to live with that pain.



A minha parte favorita é:

Angela Montenegro: Tu tens esta noção burguesa...
Dr. Lance Sweets: Burguesa?
Angela Montenegro: ...que para o amor ser real ele tem de ser permanente. Não há nada permanente. Isto é um facto. Começamos e deixamos de amar outras pessoas, mas isso não faz o amor ser menos real.
Dr. Lance Sweets: Mm-hmm, talvez estas a dizer isto porque nunca encontraste o amor da tua vida.
Angela Montenegro: Sim encontrei. Várias vezes.