domingo, 31 de agosto de 2014

O Mundo é das Crianças



Hoje olhava para um pai com dois filhos. Uma menina com cerca de nove anos, equipada com um fato de Kong Fu, e o rapaz com cerca de um ano a oscilar entre o colo dos dois.

Estava numa mesa de café ao lado deles. Num sábado preguiçoso.

Claramente a filha equipada para orgulhar o pai. O pai com ar de militar, ou lutador ou porteiro.

Claramente o pai ao telefone para tratar de negócios.

Imagino a alegria dos filhos em saírem com o pai. O esforço para serem vistos, para serem amados, para serem sentidos.

Mas o pai tem trabalho, tem negócios, tem compromissos. Bem... também tem filhos.

Talvez seja inveja minha. Talvez seja desconhecimento.

Mas hoje temos pouco tempo, pouco espaço, pouco de tudo. Então o tempo das crianças tem de ser o tempo delas. Tempo de ser!

Não há nada mais importante que as crianças e elas merecem o melhor. Regras, amor, disciplina, atenção, educação, responsabilidade.

Mas pelo que vejo todos os dias esse é um equilíbrio difícil.

Nada que um pouco de organização e vontade não resolvam. Agora estou ocupado. Agora deixo o telefone em casa. Agora sou pai em exclusividade. São só poucas horas. E essas horas valem décadas!

quarta-feira, 13 de agosto de 2014

Metafísica de um olhar

Não há nada mais bonito e mais forte e mais importante do que o ver. E para ver é preciso olhar. Alberto Caeiro sabia-o bem.

Neste corre corre perdemos o sentido e a importância do ver. De ver quem somos, mas também de ver os outros.

Mas, como tantas outras coisas, este olhar profundo é uma arte. Algo que fazemos crescer e amadurecer na nossa vida. E com a nossa vida.

Admiro as pessoas que olham para mim para me ver. Sem julgamentos, sem preconceitos, sem opiniões e que nesse sincero olhar me amam pelo que sou. Admiro tanto essas pessoas que tento fazer isso constantemente na minha vida.

Faço isso sempre que posso. Olhar para o outro e tentar vê-lo. Sem mais, nem menos. Apenas com um olhar amoroso de quem sempre admira e se surpreende com a vida. Com as suas descobertas, com as suas cores e diferenças. 

Olho para as pessoas bem fundo. Às vezes até demais. Não é um olhar confortável. Para quem não se sente confortável. Mas é um olhar honesto.

Acho que tudo o que temos de aprender e descobrir está espelhado no mundo que nos rodeia. É uma forma gentil de podermos descobrir o que precisamos sobre nós. 

E por isso, quando olho fundo para dentro da outra pessoa, acabo sempre por me encontrar e rever. 

Para as pessoas, para as coisas, para os animais, para as ruas e o seu movimento. 

E gosto disso. Sou de ver. Quem me conhece sabe isso. Porque nos outros me vejo a mim, e porque em mim encontro sempre os olhos.

Agora nesta cidade a magia acontece. Porque esta cidade exige de mim um olhar diferente. E uma forma diferente de ver tudo o que acontece. 


Mas acima de tudo o fundamental é ver. E para ver é preciso olhar. E para olhar é preciso coragem. E para ter coragem é preciso estar vivo.