quarta-feira, 31 de agosto de 2005

“A Revolta dos Keridos”

- És um kerido! – já me o disseram muitas vezes. (ou querido, dependendo do contexto escrito ou oral) – Mesmo, mesmo. – reforçam.

Acho que existe, e sempre existiu, um desafio essencial no relacionamento entre os homens e as mulheres. Não sei a que se deve, mas é evidente. Os padrões, os valores, as prioridades, a forma de se expressarem são por vezes opostas.

Quando uma rapariga diz ao namorado (como se viu por aí numa película): - Se calhar está na altura de expressar o nosso sentimento de modo diferente. O rapaz pensa SEXO!!!, enquanto a rapariga diz: - Amo-te. Fica claro que existem problemas de contextualização e de definição de prioridades: as prioridades para cada um dos sexos são, pura e simplesmente, diferentes.

Mas existem outras barreiras. Mesmo quando é clara a diferença fundamental, ainda há um problema de interpretação, de compreensão elementar. Porque no fundo é como se nós falássemos (homens e mulheres) uma língua elementar, mas que quando começamos a tentar elaborar questões mais complexas, se transforma num fiasco linguístico e relacional.

Se faço este comentário escrito é porque espero poder clarear alguns de nós nos conceitos utilizados, e na referência aos sentimentos expressos entre duas pessoas, principalmente quando são de sexos diferentes.

Começo por usar conceitos gentilmente facultados por uma amiga, que me parece ajudar a esclarecer a organização essencial dos sentimentos. Assim, para ela, e julgo que para várias mulheres e homens no mundo, existem três categorias principais: Kerido, que poderia ser querido, mas temos de nos ir ajustando aos tempos tecnológicos; Giro, que é no fundo a beleza estética da pessoa; e agora a novidade absoluta, pelo menos em termos de expressão: já marchava.

Ora confesso que tudo isto me fascina, principalmente a “já marchibilidade”. Ser “já marchável” é sem dúvida a categoria mais elevada que um homem pode almejar, enquanto, presumo sem ter a certeza, que a “gireza” será a que as mulheres preferem.

Não posso garantir, mas julgo que todos os homens tem uma parte de si que sonha em ser “já marchavas oh grosso”, que não se importam de ser “giros” e que realmente não gostam de ser “keridos” (Sim mulheres deste mundo!!! É verdade, não gostamos)

Para as mulheres acho que todas as mulheres adorariam ser “Giras” ou “Lindas”, dependendo do ambiente, depois muito “Keridas” e por último “Já marchavas oh boa” (Sim malta da cerveja, elas não apreciam ser vistas como objectos. Sim, tenho a certeza).

Aqui também poderíamos dissertar sobre o lado público e privado destas escolhas, mas agora deixaremos isso de lado.

Voltando à equação em causa esta levanta graves problemas: os homens querem marchar, mas as mulheres querem ser lindas. As mulheres detestam ser marcháveis e os homens ser keridos.

Porquê?

Porque no fundo são ambos o mesmo essencial problema, um que confesso ter sentido na pele, desde há alguns anos: estereótipos. Confortáveis, arrumadinhos e úteis estereótipos. As mulheres detestam ser vistas apenas como carne, como algo que é um objecto sexual, elementar e primário. E os homens não gostam de ser vistos como apenas ursinhos carinhosos, amigos queridos, cavalheiros e dedicados, destituídos de corpo, de sexo, de vontade, de prazer.

Julgo que a solução passa por algo até simples: vamos evitar colocar rótulos nos homens e nas mulheres, vamos evitar arrumar as pessoas que lidamos dentro de cómodas gavetas. E dividi-las, espartilhá-las e aproveitar o que nos interessa. Sim uma mulher tem corpo, tem sexo, mas também tem personalidade, interesses, existe. E nós homens, não somos amigos assexuados, sem corpo, apenas inteligentes, interessantes, bonzinhos.

Dividir-nos assim, ao meio, apenas olhando, avaliando, e utilizando o que nos interessa afasta-nos. Reduz as relações a mínimos múltiplos comuns. Aquilo que eu gosto em ti e tu tens. Não dois seres vivos a conhecerem-se com todos os desafios e limitações característicos. Temos de correr esse risco.

E por favor, nunca, mas nunca mais digam que sou “kerido”. Nunca mais!

9 comentários:

  1. és um querido....se fosses gaja já marchavas....

    ResponderEliminar
  2. Bernardo "Querido"!
    A partir de hj, vou ter mto cuidado qd utilizar esta palavra. As coisas que uma pessoa aprende ;)!!

    ResponderEliminar
  3. É uma pena q queiramos sempre aqueles "q marchavam" e n os "keridos", de certeza q trazia menos problemas...Mas, o coração tem razões q a razão desconhece...

    ResponderEliminar
  4. Ser 'kerido' é uma chatice. Somos 'keridos' para as nossas mães, irmãs, avós, primas e amigas frustradas. Sim, porque as realizadas nem sequer pensam em 'keridices', já têm o seu 'querido'. E ser 'querido' é, hoje em dia, tão futil como beber água do luso em tom verde ou rosa. Um dia faremos um clube, sem quotas, claro. Um abraço.

    ResponderEliminar
  5. Para mim "querido" é sempre uma palavra positiva, independentemente se queres "marchar" o homem em questão. "Querido" é bom, não tem segundos sentidos. Pelo menos no "dicionário Jordão" ;)

    ResponderEliminar
  6. A entoação é fundamental. O sujeito da acção também. E a situação…

    Se for a senhora de meia idade avançada que vende flores à porta do mini-mercado no meu bairro, sinto aquele calorzinho tipicamente luso de afecto por quem não se conhece. Quanto são as rosas? São a 3 euros cada, querido… e a sua querida vai ficar muito feliz, olhe que isso não tem preço!...

    Se for uma ex num encontro casual, sou capaz de ficar a pensar em segundas intenções… e dependendo do estado conjugal do momento, até posso gostar que ela me chame querido…

    Se for à noite no meu quarto… enfim, às vezes sou querido, outras vezes sou salgado… mas quero lá saber, desde que seja bom!

    Se for uma gata gira com quem andamos a tentar comer uma sobremesa só com uma colher, mas ela diz que prefere um jantar de aniversário com 30 pessoas, aí é que está o caldo entornado… querido? Querida é a tua mãe pá…

    ResponderEliminar
  7. É a velha história... Uma amiga conta que conheceu um tipo num bar... A outra curiosa pergunta: E quê é giro? Ou é bom?
    Ao que a outra responde:
    - Não é querido...

    Duro não é? Há 2 solucções ou passamos a ser marchaveis (podemos passar de queridos a comestiveis)... Ou somos giros... Ou temos muito mau feitio e ninguem diz que somos queridos...
    E se perguntarem a uma mulher o que preferes:
    - Um homem com cara de anjo??? Ou cara de mau caminho??
    Acho que a resposta é obvia...

    E as mulheres??? Isso é mais complicado se virmos a perspectiva de uma mulher se preferes ser gira, marchavel ou querida... Tinha de fazer um livro sobre este assunto...

    Os homens resume-se mais facilmente.
    - Quero é conhecer muitas mulheres giras, e marchar com todas elas!!!

    ResponderEliminar
  8. Ótimo texto! Depois vou ler mais o blog com calma. Beijo

    ResponderEliminar
  9. Obrigado :D Também estou a gostar de ler o seu :D

    ResponderEliminar