Há um espaço que não cansa. Há um tempo que corre tranquilo. Há sempre lugar para tudo. Caminhamos com um sorriso. Afinal, há BOM TEMPO NO CANAL. Este é um blog sobre quase tudo, mas principalmente sobre o dia a dia, os acontecimentos, as pessoas e as suas relações.
terça-feira, 31 de janeiro de 2006
Desejo-vos felicidade
Ele disse ontem, que uma coisa maravilhosa é a de sempre que nos cruzarmos com uma pessoa pensarmos: "Desejo-te felicidade!" E deixar esse sentimento substituir o "O que é que tu queres?" ou o "O que é que eu quero de ti?" ou o "Porque raio é que me fizeste isto?" ou o "E agora como é que eu vou dizer-te aquilo?" que tantas vezes nos ocupa a cabeça.
Pensar só: "Desejo-te felicidade. Desejo-te felicidade."
E Gere dizia: "Fazer isto é importante? Sim. Fazer isto é importante? Não."
Mas pode ser que valha a pena (digo eu...)
Hipocrisia ou Esperança
Hoje, dizia um dos "animadores": "Mas não sabiam que o que mantém a sociedade estruturada é a hipocrisia?"
Achei interessante, mas discordo. Discordo porque a hipocrisia é apenas uma consequência e não a causa propriamente dita. Como já tantas vezes escrevi aqui, acho que todos queremos o melhor para nós, independentemente do conflito que esse desejo provoque na relação com os outros, ou na capacidade ou incapacidade de concretizarmos esse desejo.
Queremos o melhor, e gosto de acreditar que temos a esperança de o concretizar. Queremos acreditar que as coisas vão correr melhor. Temos esperança, pois acredito que sem esperança de uma vida melhor, poucas coisas restariam no nosso coração.
Por isso, e para mim pessoalmente, a hipocrisia resulta apenas da incapacidade de por vezes sentimos de concretizar o que esperamos. Ou de chegar onde queremos. Como dizia ontem na televisão o Richard Gere: "Nós achamos que se não levantarmos ondas, se formos boas pessoas, se fizermos tudo bem, as coisas difíceis não nos acontecem, mas infelizmente a vida não é assim". Não é decisão nossa, nem consequência da nossa acção directa. É a vida, a imensa vida.
domingo, 29 de janeiro de 2006
Passeios pedestres por Lisboa
Uma amiga de longa data, juntamente com dois sócios, criou uma empresa em Lisboa, chamada Lisbon Walker. A empresa baseia-se no princípio simples, mas muito interessante, de fornecer, todos os dias, passeios por Lisboa. (quer chova, quer faça sol)
A ideia veio de fora, mas já fazia muita falta a uma das capitais europeias. Os turistas e os portugueses merecem a oportunidade de serem animadamente guiados pela história de Lisboa, sem ficar demasiado presos a factos chatos e desinteressantes, e conquistando os visitantes para a beleza e para a magia desta nossa cidade.
No Sábado, organizaram uma espécie de inauguração para convidados e apresentaram uma versão mais resumida de dois dos seus principais passeios: começando na Praça do Comércio fomos acabar perto do Museu do Fado, nos escritórios deles.
Não foi a primeira vez que percorri a pé aquelas pequenas ruas e aqueles edifícios de formas tão próprias, mas a verdade é que é preciso parar para ver, e ainda mais importante relembrar a beleza das nossas ruas, dos nossos passeios e dos nossos edifícios.
Re-apaixono-me sempre que por lá passo. Como se a história não fosse pesada, mas sim alegre e intemporal. Como se naquelas ruas também existisse um pouco de nós, das nossas origens, da nossa natureza.
Convido-vos a irem, com eles de preferência, vale bem a pena.
PS: No site deles podem consultar toda a informação sobre os passeios, e podem ainda contactá-los pois estou certo que serão bem atendidos.
Mas afinal é preciso Disciplina?
Tenho estado pacientemente à espera de celebrar as duas mil visitas ao meu site para escrever sobre este tema que surge na sequência natural de tanta coisa que tenho escrito anteriormente.
A questão da disciplina é uma de difícil análise. Não só pela própria natureza da palavra, como também pela proposta que representa na nossa vida.
Acho que pela sociedade ocidental em que estamos inseridos, somos formados com a convicção de que a disciplina é algo de desagradável, de duro, de militar, de escolar, que nos aborrece e nos incomoda. Os pais diziam: “Tens de ser mais disciplinado!” quando as notas não eram as que se esperavam, ou se não conseguíamos ter o quarto arrumado, ou se não conseguíamos pôr dinheiro de parte no porquinho.
Por outro lado, vivemos num mundo de dis-disciplinação. Hoje, ao contrário do que julgo fosse comum há algumas décadas atrás, as pessoas não são responsabilizadas. Não temos de assumir as consequências nos nossos actos. “Foi o cansaço… Foi a doença … Foi o chefe… Foi a mulher…” Foi sempre qualquer coisa. E apesar disso vamos vivendo, ou sobrevivendo.
Por outro lado, as pessoas com que nos deparamos como modelos de disciplina surgem sempre com um ar um pouco assustador. Como se representassem uma vida sem emoção, sem humor, e com muito, mas mesmo muito trabalho. Depois ainda tem a lata de dizer coisas do género: “A genialidade é 95% de trabalho e 5% de inspiração.”
Ora bolas, mas não haverá algo que dê menos trabalho?
Realmente sinto que a solução para este meu dilema é a constituição de uma nova disciplina, ou melhor, uma auto-disciplina, positiva e afirmativa, onde me “forço” a fazer o que sei ser o melhor para mim e não me refugio numa certa preguiça existencial. Amanhã, começo amanhã.
Apesar de todos os sentimentos incómodos em relação a essa disciplina, estou certo que esta representa o melhor para mim. Para todos, ou pelo menos quase todos, a força e a determinação para se fazer o melhor.
Porque se temos todas as ferramentas e condições (a maior parte das vezes) para sermos felizes, porque é que não o somos?
segunda-feira, 23 de janeiro de 2006
E pronto…
Estas eleições presidenciais não foram fáceis para mim. Não costumo envolver-me muito com a política, nem em particular com as eleições. Normalmente, sei, bastante tempo antes, em quem vou votar. Normalmente voto tranquilo, normalmente…
Desde as últimas eleições que as minhas dificuldades têm aumentado. Ando mais indeciso. Mais vacilante em relação ao que considero o melhor para o país. Sobre se a minha escolha neste ou naquele partido ou político vai alterar ou importar para o resultado final.
Estes dilemas tiveram significado ainda maior para as eleições presidenciais. Confesso que sempre fui anti-Cavaco e nesse sentido teria apenas a hipótese de escolher entre cinco candidatos e foi aí que se levantaram os meus grandes dilemas. Isto porque acreditei que não podia votar em branco, porque só votando num candidato de esquerda, permitia ou daria oportunidade para uma segunda volta.
Além disso sofro de um problema inverso ao que se diz normal. Em tempos idos ouvi dizer que na juventude todos são de esquerda, e na vida adulta de direita. Ora para mim parece que me ocorre o inverso, sinto-me progressivamente mais distante da direita.
Talvez também por isso, acabei por votar em Jerónimo de Sousa. Pela razão que reconheci nele uma força, uma vontade e uma sinceridade, sem exageros, sem retórica, sem pseudo-elitismo. Confiei que ele seria, na minha sincera opinião, o melhor presidente para o país. Um presidente comprometido, interessado, empenhado e sincero. Objectivamente, sabia que não seria presidente, mas foi acima de tudo um voto de confiança.
No entanto, a razãoque me levou a escrever esta crónica está na importância do que aconteceu, não antes, mas sim no fim da noite eleitoral. Acho que se tem de dizer as coisas pela positiva, as que realmente importam e têm valor. E por isso cá vai:
Primeiro, tenho de dar os parabéns a Manuel Alegre. Decidir avançar com a campanha, independentemente dos apoios. Mostrar a força e a determinação que mostrou, o amor ao país, e a capacidade para o materializar julgo que garantiram o resultado que obteve. Alegre mostrou que a democracia não é apenas partidária, é feita de pessoas determinadas, empenhadas e com confiança. Mostrou que o querer e a vontade individual têm peso no resultado final de umas eleições. Uma grande lição de civismo e de democracia. Julgo que esta ficará recordada na história.
Segundo, como eu, alguns portugueses acreditaram em Jerónimo de Sousa, e o resultado que obteve foi proporcional à força de carácter que demonstra. E maior ao que normalmente o Partido Comunista capta.
Terceiro, hoje, a ouvir o futuro Presidente da República Cavaco Silva descobri que o meu anti-cavaquismo se tinha diluído. Na realidade, acredito que pode ser um bom presidente. Que poderá ajudar o nosso país. E que, no mínimo, tem a vontade para o fazer.
Dou-lhe o meu voto de confiança, já que o outro não dei, e desejo-lhe competência, sinceridade, dedicação e, acima de tudo, muita imparcialidade.
quarta-feira, 18 de janeiro de 2006
Ainda sobre a Paternidade
segunda-feira, 16 de janeiro de 2006
Quem sai aos seus não degenera
Quando era pequeno, por razões próprias da minha estrutura familiar, acreditava que a minha mãe era Santa Maria, mãe de Bernardo, e o meu pai uma espécie de Mefistófeles exótico.
A minha família era eu e a minha mãe, e de alguma forma, isso era suficiente para me sentir seguro e feliz. Todas as virtudes assentavam que nem uma luva à minha mãe e, por essa razão, a sua companhia era fonte de grande alegria.
Durante muito e muito tempo foi assim que me senti, e pensei sempre que seguir os seus exemplos, transformar-me nela, seria o meu objectivo e propósito.
Com o avançar da adolescência fui descobrindo que as coisas não eram assim lineares. Que a minha mãe, como o meu pai, tinham qualidades e defeitos e era dessa combinação que eu tinha surgido. Qualidades e defeitos.
Depois destas constatações passei a uma nova fase de reflexão e de embirração. Olhando para os meus pais era fácil enumerar a lista de coisas que não gostaria que eu fosse quando “crescesse”. Não queria ser demasiado curioso, ou demasiado distante. Não queria ser demasiado depende, nem demasiado independente.
Nessa fase pós-adolescência e começo de vida adulta concluímos que quando crescermos não queremos ser isto, nem aquilo, baseado principalmente nos comportamentos de quais discordamos materializados nos nossos pais.
O que é curioso [parece sempre que tenho uma curiosidade a jeito para transmitir] é que com o passar o do tempo vamos confrontando-nos com algo estranho: fazer exactamente aquilo que criticávamos nos nossos pais.
Isso é particularmente assustador, quando despendemos tantas energias a negar essas características que agora parecem comodamente alojadas em nós. E se há umas menos assustadoras, há outras que não queríamos mesmo ter.
Para os mais interessados na questão da ciência, poderemos falar de como os nossos genes são preenchidos de código genético parental e familiar. E que por muito que se queira não os podemos remover, apagar, ou vender a quem os quiser. Nesse sentido, existe algo já programado em nós. Algo que vem deles, e que também nos tornamos.
Outros mais esotéricos poderão afirmar que temos os pais que escolhemos, tipo aquela lista de fotos policiais que vemos nos filmes: “Estes não... estes não... Sim! Quero nascer com estes pais.”
Confesso que seja qual for a versão a minha dúvida é a mesma: poderemos contrair essas características parentais que tanto nos incomodam? Dentro deste contexto houve quem me dissesse que se já temos consciência delas, claro que as podemos contrair, dissolver, gerir ou substituir.
Mas eu não tenho a certeza. Tenho apenas a certeza que somos filhos de quem somos, com as características que têm e que não se podem trocar. Mas uma vez mais fica a pergunta: somos fruto de um passado pré destinado, ou temos a possibilidade de escolher o que queremos ser? Podemos fazer os genes se tornarem recessivos, ou eles têm vontade própria?
Desculpem?!?!
Naquela tarde fria, estava sentado à frente do computador a trabalhar quando o telemóvel começa a tocar. Levantou-se da cadeira e viu um nome habitual no ecrã: "Mãe".
- Olá mãe, boa tarde. - afirmou a voz bem disposta.
- Olá filho, como tás?
- Estou bem, mas aqui a meio de umas coisas que preciso de acabar. Precisas de alguma coisa? - perguntou a voz sem desligar a cabeça das coisas que tinha para fazer no computador.
- Sim, o teu pai fez anos ontem, e só me lembrei agora, mas não tenho o telemóvel dele. Será que me o poderias dar. Queria mesmo dar-lhe os parabéns. Disse a mãe de voz animada.
- Sim, claro! - respondeu a voz atrapalhada, esta confraternização depois de tantos anos era original.- É o XXX XXX XXX.
- Obrigado filho, até logo.
- Até logo mãe!
------------ Duas Horas Depois -------------------------
Toca de novo o telemóvel. "Muito animado anda o telemóvel hoje", pensou. No ecrã aparece um nome menos comum: "Pai"
- Olá filho, boas tardes. Estás bom?
- Sim pai, claro e tu?
- Sim tou óptimo. - diz a voz sorridente - Sabes como sou aselha com os telemóveis. A tua mãe mandou-me uma mensagem de parabéns que queria responder, mas sem queres, apaguei a mensagem dela. Podes-me dar o seu número de telemóvel?
- Uhhhhh. Sim claro pai. É o XXX XXX XXX.
- Ok já escrevi, bom trabalho filho.
"Desculpem ?!?!"
quinta-feira, 12 de janeiro de 2006
Sobre o querer e a capacidade de o fazer
(Já tinha indiciado o início deste tema, mas agora vou desenvolver as ideias sobre o mesmo)
O querer e o fazer são, em minha opinião, a base que estrutura a nossa vida, e a forma como nos comportamos nela. Acho que a relação que as duas estabelecem entre si definem a forma como somos no mundo, como agimos e os resultados que se obtêm na vida.
A primeira questão que me parece fundamental para este tema é que, tanto o querer como o fazer, têm uma multiplicidade de formas, de inspirações e de formulações. Aqui apresenta-se a base do desafio.
Podemos querer muita coisa, e há quem diga que o desejo ou a vontade são definidoras da nossa identidade. No entanto, essa vontade não faz sentido sem se analisar conjuntamente o resultado da mesma.
Desde que nascemos que queremos. Queremos isto ou aquilo, o branco ou o preto, o sim ou não. Todos os dias e a todos os instantes.
Mas este querer só faz sentido quando se materializa ou não num fazer. Numa concretização se um sonho, de um projecto, de objectivos, paixões ou apenas de trabalho duro e esforço.
Desde sempre que esta questão representa para mim fonte de reflexão e de muitas interrogações sem resposta. Mas também acho que já aprendi que o que nos move e motiva é mais a pergunta do que as respostas que obtemos.
Ora a segunda questão que surge desta dinâmica é a forma como se relaciona o querer e o fazer e porque é que tantas vezes na nossa vida estas não coincidem entre si. Porque é que tantas vezes o que queremos, e mais importante, o que sabemos, é tão diferente daquilo que fazemos.
Essa para mim representa a questão essencial.
Ultimamente este conflito, esta tensão essencial tem me transportado a um ponto pantanoso da minha vida como ser. Porque será que aquilo que sei que é bom para mim, que me faz bem e que é importante, é tão distante das coisas que efectivamente faço?
Olhando de coração aberto para o que me habita não posso dizer que não sei, nem percebo, aquilo que me faz bem e que me é importante. Ter cuidado com o que como, respeitar o meu corpo, descansar, trabalhar para as coisas que são importantes, ser metódico e comprometido com esse bem…
Sei porque o ouço em mim. Sei que as coisas importam, e tem valor. Sei que isto é melhor e aquilo é pior. Que isto é o ideal e que aquilo é acessório. Pelo menos quando crio o espaço para isso, sei a resposta.
E apesar disso, tantas e tantas vezes não faço, não quero ou não sou capaz. Porquê?
Estou certo que alguém poderia dizer que essa é a liberdade que temos, o livre arbítrio, poder escolher o que queremos fazer. Mas, na realidade, isso confunde-me. Se somos seres bons, que procuramos o melhor e o que é importante, porque é que escolhemos tantas vezes não o fazer?
É muito curioso. Até porque sinto que tantas vezes, quanto mais próximo sinto as coisas que devo fazer, mais luto para contrariar essa vontade, fujo desse centro ou desse sentido.
Podem dizer obviamente que se calhar isso que acho que é importante e que não faço, não será assim tão importante, porque se realmente o fosse eu fá-lo-ia. E eu tenho de concordar que há algo misterioso aqui. Há algo estranho nesta dialéctica.
Mas acho, do que sinto em mim, que a resposta é mais simples. Já ouvi dizer muitas vezes que a genialidade é noventa por cento de trabalho duro e dez por cento de criatividade. E mesmo assim, passo o tempo a tentar usufruir dessa criatividade inspiradora sem trabalho.
Acho que sou preguiçoso. Acho que pode ser essa a resposta fundamental à questão. Que realmente para conseguirmos fazer as coisas importantes não podemos não querer trabalhar para isso. Esperar que nos caí no colo, sem esforço, sem empenho.
Mas então de onde vem essa preguiça? Será que na nossa sociedade, nos tempos que vivemos, estejamos habituados à facilidade, ao fácil?
No tempo dos nossos pais, dos nossos avós, o trabalho era essencial, porque sem ele não conseguíamos viver. Sem esse trabalho não havia esperança, nem saúde, nem bem estar.
Hoje, sem isso, conseguimos viver, e se calhar até viver “bem”. Se não quisermos trabalhar, dedicarmo-nos de alma às coisas que importam, a vida corre sem problemas de maior. Ou pelo menos, a única coisa que realmente incomoda é esta voz que temos dentro de nós a avisar: “não é bem por aí!”
Mas no meio de tanto ruído não temos tempo, ou não queremos ter para a ouvir. Estamos sempre entretidos. Vivemos na sociedade do entretenimento. Mas esse entretenimento que tanto nos agrada, parece afastar-nos de nós. Silenciar, tornar-nos preguiçosos e acomodados.
E se assim é porque é que o escolhemos assim? Haverá uma intenção ou uma vontade superior por trás disto? Será que vivemos numa teoria da conspiração onde os poderes instituídos, visíveis ou invisíveis, querem seres humanos adormecidos, obedientes, silenciados? E se sim porque?
Ou será apenas uma qualquer memória dolorosa que carregamos e que nos diz: “agora vamos levar as coisas com calma, não pensar de mais, não sentir de mais… Vamos ver televisão, ou ler um livro, ou ir beber uns copos e deixar o importante para amanhã.”
Às vezes sinto que o tempo passa muito devagar, que passamos anos para resolver problemas tão simples. E por outro lado, ás vezes parecemos tão entretidos nessa tensão, entre o conseguir e o não, que acabamos por não perceber outra evidência. Que mudar é instantâneo, que é rápido e simples.
Não tenho respostas formatadas e simples, até porque é a pergunta que me move. Que me faz tentar ser todos os dias melhor. Mas lá em cima deve estar alguém, com um sentido de humor divino, a dizer: “este tipo demora tanto a chegar a onde deve… que preguiçoso!”
Que eu quero, quero! Mas então porque não o faço?
sexta-feira, 6 de janeiro de 2006
Silêncio
Será que estas coisas funcionam por antítese?
Eu "despejo" uma cascata de posts, e recebo "0 comentários"?
Acho curioso como quando julgo gerar mais interacção apenas obtenho silêncio.
quarta-feira, 4 de janeiro de 2006
Acredito no Amor
Não como uma suposição, não como uma crença ou superstição.
Acredito no Amor!
Acredito no olhar das crianças, no cheiro das flores, no sol quente no peito.
Acredito no nascer do dia, na lua a brilhar no céu, e naquele cheiro a fresco no ar.
Acredito no dar as mãos e no sorrir. Acredito na saudade e na esperança.
Acredito no mais e no melhor. Acredito sempre que podemos se quisermos.
Acredito no Amor!
Quando olho para o que se passou e para o que virá...
Acredito na vontade, acredito nos abraços e nos amigos.
Acredito na força e no silêncio.
Acredito no Amor!
Acredito que sou o mundo. Acredito no mundo. Acredito em ti.
Acredito no Amor!
O sol pode brilhar, ou pode chover. Posso ter ou não ter dinheiro.
Posso me sentir forte ou cansado. Alegre ou triste. Confiante ou desmoralizado.
Posso sentir-me só ou rodeado de amigos. Posso estar no meu melhor ou no pior.
Posso conseguir ou até falhar. Posso ser capaz ou não de amar.
Mas acima de tudo: Acredito no AMOR!
Sobre Probabilidades e Astrologia
"We believe these sequences reflect a kind of destiny only because we are predisposed to remember the occasions when the sequence seemed to go on for ever, and forget all those other occasions when a promising little sequence went kaput. This is exactly the same as our propensity to recall and fixate on those very rare instances of dreams or horoscopes that appear to ‘come true’, as some must do under the law of averages, and to ignore the countless others which turn out to be groundless and are instantly forgotten." (artigo inteiro aqui)
(Um amigo meu convidou-me a ler este artigo no outro dia, na sua provocadora atitude. E achei que valia a pena desenvolver um comentário mais alargado sobre o tema.)
Todas as ocorrências da nossa vida são cheias de probabilidades: se trabalhar todo o dia conseguirei cumprir o prazo? se estudar este mês vou tirar 20? se carregar na campainha será que ela vai tocar?
Se não vivêssemos num universo de incertezas e de dúvidas estou certo que não viveríamos neste planeta. Seria outro qualquer, com outro nome, com outro valor e com outra importância.
Há obviamente uma correlação matemática com a taxa de sucesso de determinado acontecimento: se sempre que carregamos na campainha ela toca, existirão maiores probabilidades, ou quase totais, que o mesmo se volte a passar. E portanto carregamos e ela toca. Claro que o inesperado pode queimar um fusível, cortar a electricidade, ou avariar a campainha. Mas as probabilidades, neste caso, são claramente a favor do toque.
Obviamente, quando passamos a falar de coisas com seres vivos, os fenómenos complexificam-se e os resultados perdem absolutismo. Será que ela me vai ligar? Será que ele gosta de mim? Será que hoje está bem disposto? Nesta equação as variáveis são mais complexas, porque existem muitos outros factores, diria até um mundo de factores.
Terei de concordar quando, no texto acima, afirmam que temos mais tendência para nos lembrarmos daquilo que nos parece extraordinário, em contraposição a esquecermos o comum ou o que já esperávamos. Isso acontece porque as coisas que caem fora do nosso padrão, da nossa estrutura, surpreendem-nos e por isso guardamo-las na memória. No entanto, acho que a astrologia não tem nada a ver com probabilidades.
Como todo o conhecimento que é adquirido através de investigação e trabalho, torna-se mais "eficiente" conforme o conhecimento aumenta, junto com a experiência. Quanto mais a estudamos, quantos mais mapas olharmos, quanto mais analisarmos os seus aspectos e a forma como interagem, mas saberemos e compreenderemos sobre a natureza ou a acção das pessoas.
Por isso acontece, por vezes, alguém que percebe de astrologia nos referir a probabilidade de algo acontecer, e essa coisa acontecer ou não acontecer. Na verdade, nunca fiz um estudo estatístico da taxa de sucesso das previsões astrológicas, mas também nunca foi essa a área que mais me interessou.
Para mim, em particular, a astrologia permite-nos adquirir um conhecimento suplementar sobre a nossa realidade, sobre quem somos, a forma como vemos o mundo, e a forma como agimos sobre ele.
Não é uma ciência exacta, é uma ferramenta útil, que também pode ser mal utilizada, ou manipulada.
E aqui voltamos ao texto. Se queremos acreditar que algo vai acontecer, se alguém nos diz que sim ou que não, qual será o peso disso no resultado final? Será que acreditarmos nas coisas ajuda-nos a dar-lhes realidade? Eu acredito que sim. Acredito!
Não é matemática, é fé. Porque se alguém que nos ama acredita em nós, se alguém de quem gostamos confia nas nossas capacidades, se nos diz que as coisas vão correr bem então sentimo-nos mais fortes, mais seguros, mais capazes, e isso obviamente favorece um resultado positivo.
Com o contrário também é verdade. Se alguém te disser, antes de começares algo: "não vais conseguir!" é impossível, pelo menos para a maioria de nós afirmar que isso não nos influencia, que não nos deixa inseguros.
É uma relação dialéctica interminável. Se acreditamos temos mais força, se temos mais força fazemos melhor, se fazemos melhor acreditamos mais. E as probabilidades não importam para nada.
Estamos cheios de surpresas neste universo, acontecimentos matematicamente e probabilisticamente impossíveis estão sempre a ocorrer. E por isso se chama vida.
Acreditamos por isso que as sequências dos acontecimentos nos predestinam porque acreditamos que temos um papel activo na nossa vida, porque afinal, ela é nossa.
INSISTO - Acreditem!!!
Vou repetir até me convencer:
Podemos agrupar as pessoas em dois grandes grupos: o que acredita que tem o poder de interferir na sua vida, e o que acredita que é apenas o resultado do que acontece e não tem capacidade para mudar.
Se pertencem ao grupo dos "crentes" então é óbvio que quanto mais positiva, optimista, afirmativa, crente e convicta for a forma de agirem, de se olharem e de se comunicarem, melhores serão os resultados da vossa vida.
Se pertencem aos "cépticos", então estou certo que mesmo sendo o resultado do que vos acontece, de que vale a pena terem medo, ou sentirem-se mal? Se não podem mudar nada, se são alvo das circunstâncias da vida, não é bem melhor que o façam com alegria. Pelo menos, até ao próximo incidente estão bem e confortáveis.
Será tão estranho?
terça-feira, 3 de janeiro de 2006
Ao meu avô Gualdino
Nestes últimos dias tenho pensado muito em ti. Talvez seja esta avaliação que fazemos sobre o tempo que passou no ano anterior. Ou se calhar os meus trinta e um anos (a reflexão dos trinta). Já passaram tantos anos desde que partiste e tenho saudades. Muitas saudades.
Lembro-me tão bem dos momentos em que estivemos juntos. Recordo estar sentado ao teu lado, quando me tentavas ensinar a caligrafia (em que era tão irregular) e tentavas que escrevesse as letras todas para o mesmo lado, numa linha direita. E para mim isso era um desafio enorme.
Acho que sempre quiseste que fosse mais “direito”. Nessa altura, as minhas questões eram bem mais simples, e os desafios eram outros: se estudava ou não, se me portava bem ou não, se eram um “bom rapaz”, se ajudava a minha mãe.
Senti sempre esse enorme amor que tinhas por mim, o orgulho no teu rapaz e o teu sonho de ser maior e melhor todos os dias.
Às vezes penso, se fosses vivo, se te orgulharias do caminho que escolhi para mim, se sentir-te-ias feliz por me ver hoje, com casa própria, a arriscar no que acredito ser o melhor.
Foste sempre uma das grandes figuras masculinas da minha vida, e para um rapazito que vive só com a mãe, isso era tão importante. Até porque tu eras um modelo de peso. A minha mãe e a minha avó sempre te elogiaram tanto. Sempre me disseram tantas coisas bonitas sobre ti. A forma como agias na tua vida. A responsabilidade e a força quando dela precisavas.
Foste sempre um suporte para os que te rodeavam.
Não me esqueço nunca de me teres ensinado a andar de bicicleta, no jardim do liceu. Lembras-te? Eu a pedalar com força a tentar não cair e tu, atrás de mim, agarravas a bicicleta e corrias. “Vá, pedala! Não tenhas medo.” E eu pedalei. E quando olhei para trás, já estava sozinho a pedalar feliz e tu para trás a rir de eu nem ter percebido.
Sempre foste assim. A suportar a minha caminhada.
Quando partiste ainda era pequeno. E nessa altura fizeste-me muita falta. Com o passar do tempo as coisas mudaram e aprendi a viver sem ti.
Agora, pensei nestes dias tanto em ti. Não sei bem o que sinto do que fiz e até onde cheguei. Não é fácil ser-se “grande”. E tu que nunca pudeste ser pequeno. A tomar conta da tua mãe e das tuas irmãs. Foste para a Marinha e sempre viveste no mar. Adoravas os motores e a tua oficina, onde construías tantas obras. Será que é por isso que gosto tanto de obras e pequenas reparações?
Hoje precisava de ti aqui do meu lado. De falar das coisas que me custam e que não sei ultrapassar com facilidade. Conselhos de avô. Sinto-me neste ponto de viragem da minha vida. E nem sei explicar-te bem. Parece sempre que vivo apenas parte do potencial que poderia ser. E com dificuldade em encontrar as forças para ser mais. O que farias tu?
Tantos sonhos, tantos projectos. E ainda tanto para fazer e ainda tanto para aprender. Quando te via de mão dada comigo, naqueles passeios sem fim onde eu falava e falava, e tu sorrias em resposta às minhas invenções. Eras tão adulto, tão sensato e tranquilo.
Agora que sou maior, olho para mim e não sei bem se cresci assim tanto. Ainda sinto a falta de alguém que me dê a mão e que acredite em mim.
Sei que estás no meu coração e que a mão que procuro é a minha. Mas era tão bom que estivesses comigo. Me falasses dos teus navios, de Africa, da minha mãe e da minha avó. Da força e da vontade, do amor, da capacidade que tinhas de construir e armazenar.
Tenho saudades tuas avô. Muitas.