quarta-feira, 19 de março de 2008

Fotografias de criança

Perdi a alegria de olhar para as fotografias. Lá vai o tempo em que me deliciava ao folhear do meu álbum, sentada no sofá, mexendo ora no cabelo, ora nos pés descalços que muito se juntavam, pela posição de ângulo que as pernas tomavam.
Agora, não sinto mais prazer em ver ali a minha imagem estampada. As ancas estão largas, o cabelo sem vida, a pele estragada e não correspondo ao que antes idealizei.
Talvez isto seja fruto da idade, pois lembro-me das fugas que a minha mãe fazia e ainda faz às fotografias. É que naquela folha fina de papel fotográfico mostramo-nos a nós mesmos e, então, descobrimos que o espelho engana.
Alegria?! Tenho-a quando a Joaninha me beija sem eu lhe pedir. Bate-me uma emoção forte nos momentos em que partilho o meu tempo com ela. É tão bom ouvi-la gritar o meu nome. Aí, sinto realmente alegria.
A ela já eu gosto de ver nas fotos. Umas dão-nos a conhecer o seu lado de reguila, outras a sua ternura e outras mostrando outros lados da sua pessoa.
Se calhar, quando ela chegar à minha idade, talvez já não goste de fotografias e também tenha mais alegria em gravar na sua mente todos os momentos vividos.

As alegrias são efémeras. A memória pode guardá-las e a vivência desfigurá-las.

Texto de 1999

1 comentário:

  1. Acho que é uma aprendizagem aceitar o crescimento e ver como mudamos e nos transformamos. Por vezes um difícil. O corpo tem vontade própria, desejos próprios, energia própria.

    Mas essa também é a magia da vida.

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