Há muito tempo atrás ouvi uma história muito bonita. Um shaman ou um índio foi convidado para dar uma palestra numa qualquer grande cidade onde nunca tinha estado(gosto de pensar que foi em Nova Iorque). Ele nunca tinha andado de avião. Ao chegar à cidade, antes de ir para qualquer lado, pede ao motorista: "Leve-me para um parque qualquer. Agora tenho de esperar que a minha alma chegue."
Sinto-me assim há muito. Num perpétuo estado de espera pela chegada da minha alma. Primeiro foi uma casa, depois foi a outra, depois foi Luanda, depois foi Estoril, depois foi Luanda, depois foi Carcavelos, depois foi Lisboa, e agora é São Paulo.
Gosto do meu estado de perpétuo viajante. Desafia os meus limites, alarga os meus horizontes. Força um crescimento nesta criança que também teima em não crescer.
Este perpétuo movimento exige e estimula. Todos temos âncoras, todos temos a necessidade de nos prendermos a coisas que consideramos pertinentes, definidoras da nossa identidade, criadoras do nosso ser. No meu caso particular vou descobrindo que não posso depender de nada fora de mim. Essa âncora, essa chave do cadeado, essa corrente solificadora, no meu caso particular, tem de ser interior.
Isso implica a coragem de abdicar de tudo, e a força para só depender do que temos dentro. E isso estimula mais desafios. Ainda mais quando o que temos por dentro não é claro nem límpido. Quando é apenas apaixonado, louco, intenso, amante, humano, infantil.
Agora pela primeira vez sinto que cheguei. Não propriamente a São Paulo, mas a mim próprio. E estes passos perdidos e confusos fazem parte de uma grande orquestra. Que não é fácil de gostar e de perceber. Mas todos temos a sua. Como aqueles concertos exóticos que vamos porque nos convidam. E que depois descobrimos que apesar da estranheza têm uma beleza imensa.
E agora que estou a chegar completo e inteiro estou pronto.
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