terça-feira, 4 de abril de 2006

Sonhos e outras coisas que nos fazem sonhar


Estou a ler um livro apaixonante: "Um Amor Feliz" de David Mourão Ferreira. Confesso que ainda só vou a meio mas aconselho vivamente dois capítulos extraordinários de literatura portuguesa: o do Jantar em casa dos latino-americanos, e o outro o discurso exaustivo e realista da empregada da limpeza. São pérolas da escrita.

Ou melhor, para mim são pérolas da escrita. Talvez por que me identifique, não obviamente com a qualidade, mas de uma forma muito mais modesta (a minha claro) com uma escrita visual e cheia de humor, que nos preenche os sentidos.

Era assim que gostaria de ser. Um escritor de sentidos, de sentimentos, de humor e de encanto. Um escritor que pinta as palavras de forma encadeada, sem cuidados excessivos, nem intelectualismos gratuitos.

Sempre quis escrever. Desde que tinha idade para juntar letras. E ainda guardo religiosamente em casa esses pedaços de letras desalinhadas, cheias de erros de ortografia, gramática, mas cheios de mim:

"e o cão veiu salfar a selhora Ana do asidente."

Nunca foi pela qualidade da escrita, mas por algo que Richard Back descreve lindamente no seu livro Ilusões: algo que rebentando pela parede, te agarra no colarinho e diz, não te largo enquanto não me escreveres.

E assim é! Não que seja algo de vida ou morte. Mas diz St. Teresa d'Àvila: O único verdadeiro pecado é o que fica por fazer. E tantas vezes pequei. Por medo, por preguiça, por convicção de falta de jeito.

Hoje já não é tanto assim. Neste blog, vou encontrando um espaço de expressão dos meus amigos, que me apertam o colarinho. E vão tranquilamente tombando para as páginas de bites and bytes deste blog. E fico mais tranquilo e feliz de os ver expressos. E contente porque me trazem também espaços para outros sonhos.

Queria também cantar. Sempre quis cantar. Ser protagonista de uma qualquer banda. Sentir a música e encantar. Estar num palco intimísta, a desencadear palavras e sons em cadências românticas.

Sou um humanista, existencialista, romântico e sonhador.

E continuo cheio destes sonhos que parecem feitos de criança: ser bombeiro, pintor, rico, polícia, herói. Mas não é isso que nos faz avançar? Querer sempre mais?

2 comentários:

  1. "Pelo Sonho é que vamos,
    comovidos e mudos.
    Chegamos? Não chegamos?
    Haja ou não haja frutos,
    pelo sonho é que vamos.

    Basta a fé no que temos,
    Basta a esperança naquilo
    que talvez não teremos.
    Basta que a alma demos,
    com a mesma alegria,
    ao que desconhecemos
    e do que é do dia-a-dia.

    Chegamos? Não chegamos?

    - Partimos. Vamos. Somos."

    in "Pelo Sonho é que Vamos"
    Sebastião da Gama

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  2. Ainda não comentei porque fiquei sem palavras.

    O obrigado 4 elementos, por partilhares este caminho comigo

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