terça-feira, 11 de abril de 2006

Felicidade

Será que a felicidade é algo que surge na sequência de algo, como resultado das nossas acções, de um trabalho consciente e intencional.

Um será que a felicidade é apenas um estado que se escolhe ter, independentemente dos acontecimentos ou circunstâncias?

3 comentários:

  1. Esta exige um comentário. Estamos no terreno da especulação filosófica que, afinal, nada mais pretende do que tematizar aquelas experiências que todos nós vivemos...

    Pensar que a felicidade é um estado pressupõe que ela possa ser atingida e realizada sob determinadas condições. Seremos felizes quando ...

    Também ilusória é a conviccção de que a felicidade é um estado mais ou menos psicológico inteiramente dependente da minha vontade ... o que faria de mim o senhor da minha vida, capaz de controlar tudo aquilo que me acontece ...

    Via mais fecunda poderá ser aquela que preconiza que a felicidade consiste num agir habitual conforme à razão que concorra para o aperfeiçoamento de um ser, isto é, para o desenvolvimento de todas as suas possibilidades no sentido do melhor (Aristóteles).

    Agir habitual porque pressupõe continuidade, permanência - "uma só andorinha não faz a Primavera";

    e conforme à razão porque o ser que somos distingue-se de todos os outros seres da nossa experiência em virtude da sua inteligência e espiritualidade - "torna-te aquilo que és".

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  2. Amigo Franquet, não serei eu a contrair Aristóteles. O agir habitual é interessante, principalmente porque a continuidade, e a repetição, são grandes fontes de segurança e estabilidade, e desse modo, julgo eu, felicidade.
    O conforme à razão, já me deixa bem baralhado. Porque esta coisa da razão, ter razão, agir racionalmente, não sei se poderá ser valorizada como algo objectivo e rigoroso.

    Eu vou tornando-me aquilo que tento ser e que acho que sou... será que tenho razão?

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  3. Embora a felicidade não se possa confundir como um estado prazenteiro ao alcance de uma qualqer técnica psicológica, ela não está completamente dissociada da nossa vontade, caso contrário não faria sentido pensá-la no quadro de uma ética.

    Neste sentido, "torna-te aquilo que és" pressupõe uma tarefa destinada a um sujeito livre, neste caso o homem. O animal não se torna aquilo que é, ele está condenado a sê-lo, quer queira quer não, ainda que tantas vezes gostássemos que os nossos pequenos "pets" se tornassem semelhantes a nós e fossem capazes de reciprocidade na relação connosco...

    Mas "torna-te aquilo que és" pressupõe também razão e inteligência. Caso contrário, apesar de livre, eu não saberia escolher um sentido a dar à minha existência. Poderia simplesmente viver para satisfazer os meus instintos, como fazem os bichinhos.

    O que está em causa não é saber quem tem razão. Mas antes pensar o homem enquanto ser espiritual: livre para se orientar para o Bem e inteligente para se orientar para a Verdade, não uma vez ou outra, mas habitualmente.

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