Será que a felicidade é algo que surge na sequência de algo, como resultado das nossas acções, de um trabalho consciente e intencional.
Um será que a felicidade é apenas um estado que se escolhe ter, independentemente dos acontecimentos ou circunstâncias?
Esta exige um comentário. Estamos no terreno da especulação filosófica que, afinal, nada mais pretende do que tematizar aquelas experiências que todos nós vivemos...
ResponderEliminarPensar que a felicidade é um estado pressupõe que ela possa ser atingida e realizada sob determinadas condições. Seremos felizes quando ...
Também ilusória é a conviccção de que a felicidade é um estado mais ou menos psicológico inteiramente dependente da minha vontade ... o que faria de mim o senhor da minha vida, capaz de controlar tudo aquilo que me acontece ...
Via mais fecunda poderá ser aquela que preconiza que a felicidade consiste num agir habitual conforme à razão que concorra para o aperfeiçoamento de um ser, isto é, para o desenvolvimento de todas as suas possibilidades no sentido do melhor (Aristóteles).
Agir habitual porque pressupõe continuidade, permanência - "uma só andorinha não faz a Primavera";
e conforme à razão porque o ser que somos distingue-se de todos os outros seres da nossa experiência em virtude da sua inteligência e espiritualidade - "torna-te aquilo que és".
Amigo Franquet, não serei eu a contrair Aristóteles. O agir habitual é interessante, principalmente porque a continuidade, e a repetição, são grandes fontes de segurança e estabilidade, e desse modo, julgo eu, felicidade.
ResponderEliminarO conforme à razão, já me deixa bem baralhado. Porque esta coisa da razão, ter razão, agir racionalmente, não sei se poderá ser valorizada como algo objectivo e rigoroso.
Eu vou tornando-me aquilo que tento ser e que acho que sou... será que tenho razão?
Embora a felicidade não se possa confundir como um estado prazenteiro ao alcance de uma qualqer técnica psicológica, ela não está completamente dissociada da nossa vontade, caso contrário não faria sentido pensá-la no quadro de uma ética.
ResponderEliminarNeste sentido, "torna-te aquilo que és" pressupõe uma tarefa destinada a um sujeito livre, neste caso o homem. O animal não se torna aquilo que é, ele está condenado a sê-lo, quer queira quer não, ainda que tantas vezes gostássemos que os nossos pequenos "pets" se tornassem semelhantes a nós e fossem capazes de reciprocidade na relação connosco...
Mas "torna-te aquilo que és" pressupõe também razão e inteligência. Caso contrário, apesar de livre, eu não saberia escolher um sentido a dar à minha existência. Poderia simplesmente viver para satisfazer os meus instintos, como fazem os bichinhos.
O que está em causa não é saber quem tem razão. Mas antes pensar o homem enquanto ser espiritual: livre para se orientar para o Bem e inteligente para se orientar para a Verdade, não uma vez ou outra, mas habitualmente.