XXIV - O que Nós Vemos
O que nós vemos das cousas são as cousas.
Por que veríamos nós uma cousa se houvesse outra?
Por que é que ver e ouvir seria iludirmo-nos
Se ver e ouvir são ver e ouvir?
O essencial é saber ver,
Saber ver sem estar a pensar,
Saber ver quando se vê,
E nem pensar quando se vê
Nem ver quando se pensa.
Mas isso (tristes de nós que trazemos a alma vestida!),
Isso exige um estudo profundo,
Uma aprendizagem de desaprender
E uma seqüestração na liberdade daquele convento
De que os poetas dizem que as estrelas são as freiras eternas
E as flores as penitentes convictas de um só dia,
Mas onde afinal as estrelas não são senão estrelas
Nem as flores senão flores.
Sendo por isso que lhes chamamos estrelas e flores.
Isso exige um estudo profundo,
Uma aprendizagem de desaprender
E uma seqüestração na liberdade daquele convento
De que os poetas dizem que as estrelas são as freiras eternas
E as flores as penitentes convictas de um só dia,
Mas onde afinal as estrelas não são senão estrelas
Nem as flores senão flores.
Sendo por isso que lhes chamamos estrelas e flores.
Foste tu o autor deste segredo de bem viver?
ResponderEliminarSabes.... como temos cérebro para além de sentidos, acabamos por ver e pensar , ver e imaginar, ver e depreender, ver e ver tudo deturpado....ouvimos sem querer, descontextualizados , interpretando o indizível e depois...trocamos ...sofremos...mal entendemos...mas cá estamos...sempre a tempo para não repetir o erro.
E pensar que o que vimos era tão só para ver, e ouvir o que apenas foi dito sem outras interpretações.
Ainda há pouco ouvia de uma boca ..de um corpo...de alguém...que está ainda no coração:
" já terminei a emissão, vou já pra ai. até já."
Passei naquele momento sem intenção de "ouvir", o que naquele momento era "dito" ao telefone.
Do outro lado, quem estaria?
Mulher, homem?
Chorei um bocadinho por dentro, "depreendendo" que o pouco que ouvi...possa ter sido para uma nova pessoa .... na vida da pessoa ...que ainda mora cá dentro.
Será que fiz o filme correcto de um alcançe imprevisível do meu ouvido?
um beijico
di
Não sou eu que avalio o que cada um ouve e cada um vê. O que é de cada um a cada um pertence.
ResponderEliminarA metafísica a bastante em pensar nos nossos próprios ouvidos e nos nossos próprios olhos.
Escrevemos direito (ás vezes nem tanto) por linhas tortas, apenas para seguir o exemplo de alguém que sabe tanto mais do que nós.
Mas realmente, e acredito cada vez mais nisto, somos o que queremos ser e vivemos o que queremos viver.
E se neste mundo há vítimas, são apenas as que criamos e as que escolhemos ser.
Podemos ser mudar, podemos sempre escolher, podemos sempre ser ou deixar de ser.
O mundo está a nossos pés. E se o escurecemos ou aclaramos, apenas temos de nos perguntar o porquê.
Somos sempre pessoas novas ou podemos sempre ser.
E só para concluir, o autor é Alberto Caeiro, o que também como o outro tentava guardar os seus rebanhos.
ResponderEliminar