quarta-feira, 25 de outubro de 2006

Saber Ver


XXIV - O que Nós Vemos


O que nós vemos das cousas são as cousas.
Por que veríamos nós uma cousa se houvesse outra?
Por que é que ver e ouvir seria iludirmo-nos
Se ver e ouvir são ver e ouvir?

O essencial é saber ver,
Saber ver sem estar a pensar,
Saber ver quando se vê,
E nem pensar quando se vê
Nem ver quando se pensa.

Mas isso (tristes de nós que trazemos a alma vestida!),
Isso exige um estudo profundo,
Uma aprendizagem de desaprender
E uma seqüestração na liberdade daquele convento
De que os poetas dizem que as estrelas são as freiras eternas
E as flores as penitentes convictas de um só dia,
Mas onde afinal as estrelas não são senão estrelas
Nem as flores senão flores.
Sendo por isso que lhes chamamos estrelas e flores.


3 comentários:

  1. Foste tu o autor deste segredo de bem viver?

    Sabes.... como temos cérebro para além de sentidos, acabamos por ver e pensar , ver e imaginar, ver e depreender, ver e ver tudo deturpado....ouvimos sem querer, descontextualizados , interpretando o indizível e depois...trocamos ...sofremos...mal entendemos...mas cá estamos...sempre a tempo para não repetir o erro.
    E pensar que o que vimos era tão só para ver, e ouvir o que apenas foi dito sem outras interpretações.

    Ainda há pouco ouvia de uma boca ..de um corpo...de alguém...que está ainda no coração:
    " já terminei a emissão, vou já pra ai. até já."

    Passei naquele momento sem intenção de "ouvir", o que naquele momento era "dito" ao telefone.
    Do outro lado, quem estaria?
    Mulher, homem?
    Chorei um bocadinho por dentro, "depreendendo" que o pouco que ouvi...possa ter sido para uma nova pessoa .... na vida da pessoa ...que ainda mora cá dentro.

    Será que fiz o filme correcto de um alcançe imprevisível do meu ouvido?

    um beijico
    di

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  2. Não sou eu que avalio o que cada um ouve e cada um vê. O que é de cada um a cada um pertence.

    A metafísica a bastante em pensar nos nossos próprios ouvidos e nos nossos próprios olhos.

    Escrevemos direito (ás vezes nem tanto) por linhas tortas, apenas para seguir o exemplo de alguém que sabe tanto mais do que nós.

    Mas realmente, e acredito cada vez mais nisto, somos o que queremos ser e vivemos o que queremos viver.

    E se neste mundo há vítimas, são apenas as que criamos e as que escolhemos ser.

    Podemos ser mudar, podemos sempre escolher, podemos sempre ser ou deixar de ser.

    O mundo está a nossos pés. E se o escurecemos ou aclaramos, apenas temos de nos perguntar o porquê.

    Somos sempre pessoas novas ou podemos sempre ser.

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  3. E só para concluir, o autor é Alberto Caeiro, o que também como o outro tentava guardar os seus rebanhos.

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