domingo, 30 de março de 2008

Querido Pai, foda-se - Carta de um filho

Autor: Kimya Dawson

Música: Loose Lips

"loose lips might sink ships but loose gooses take trips
to san francisco, double dutch disco,
tech tv hottie, do it for scotty
do it for the living and do it for the dead
do it for the monsters under your bed
do it for the teenagers and do it for your mom
broken hearts hurt but they make us strong and

we won't stop until somebody calls the cops
and even then we'll start again and just pretend that
nothing ever happened

we won't stop until somebody calls the cops
and even then we'll start again and just pretend that
nothing ever happened

we're just dancing, we're just hugging,
singing, screaming, kissing, tugging
on the sleeve of how it used to be
how's it gonna be?
i'll drop kick russell stover, move into the starting over house
and know matt rouse and jest are watching me achieve my dreams
and we'll pray, all damn day, every day,
that all this shit our president has got us in will go away
while we strive to figure out a way we can survive
these trying times without losing our minds

so if you wanna burn yourself remember that I LOVE YOU
and if you wanna cut yourself remember that I LOVE YOU
and if you wanna kill yourself remember that I LOVE YOU
call me up before your dead, we can make some plans instead
send me an IM, i'll be your friend

shysters live from scheme to scheme and my 4th quarter pipe dreams
are seeming more and more worth fighting for
so i'll curate some situations, make my job a big vacation
and i'll say FUCK BUSH AND FUCK THIS WAR
my war paint is sharpie ink and i'll show you how much my shit stinks
and ask you what you think because your thoughts and words are powerful
they think we're disposable, well both my thumbs opposable
are spelled out on a double word and triple letter score

we won't stop until somebody calls the cops
and even then we'll start again and just pretend that
nothing ever happened

we won't stop until somebody calls the cops
and even then we'll start again and just pretend that
nothing ever happened

we're just dancing, we're just hugging,
singing, screaming, kissing, tugging
on the sleeve of how it used to be"

Podem ver a música aqui:


Carta de um filho


Querido Pai, foda-se!

Já chega! Não aguento mais! Se ainda fosses só tu e a mãe a querer que eu fosse mais como o António. Mas agora parece que o país tá de pernas para o ar. Ligo a televisão e já passámos de geração rasca para geração de merda. E a culpa é da escola, e a culpa é dos pais e a culpa é dos professores, a culpa é da educação. Foda-se pai... só queremos amor.

E tu passas a vida a dizer que a Joana devia ser uma rapariga sem educação. E que ela devia era ir para a prisão por ter sido tão mal-educada. E que no teu tempo não era assim. Vens sempre com as mesmas tretas.

Mas será que já pensaste que eu poderia ter feito o mesmo. Aliás naquela sala e em quase todas as salas de aulas do mundo podia ter sido o mesmo. E tu vens sempre com as mesmas conversas. As más companhias, e que o Jorge não presta porque o pai é alcoólico, e que não tua casa não se admite coisas dessas.

Mas parece-me pai, daqui de onde olho, que é só hipocrisia.

A Joana fez merda, mas todos fazemos todos os dias. Eu sei que tu não sabes, que tu não sonhas. Mas deve ser a merda do trabalho que tens, ou a pressa de ires para o café. Ou a mãe fechada na cozinha a fazer o jantar e a ver uma qualquer brasileira viver a história de amor que ela nunca viveu, e com o corpo que ela nunca teve. E que aliás tu irias preferir. Ou se calhar a avó-vegetal.

E vocês os adultos deste mundo atiram a culpa para uns e para outros. E no outro dia o Pedro dizia-me que o pai dele tinha ido ameaçar um professor por isto ou por aquilo. E vocês ainda acham que somos merdas? Que somos nós as crianças? Foda-se pai só queremos amor.

Pai, vocês os "adultos" andam todos a dormir. Só queremos amor. Só queremos tempo. Só vos queremos mais presentes.

Mas vocês não sabem amar, não foram amados. não tem tempo para sorrir e para olhar-nos nos olhos. Sabes que a Ana fuma às escondidas na esquina da rua? E que eu já meto uma pastilha de vez em quando? Sabes que no outro dia descobrimos que aquele colega do 11 D já é toxicodependente? Mas podia ser eu ou a Ana?

Sim estou perdido! E para que quero eu ser feliz?, perguntas tu todos os dias. Todos temos é que trabalhar e cumprir as nossas obrigações. Arranjar um emprego, ter boas notas. Vens sempre com o mesmo. Dizes que queres um destino diferente para mim. Mas encaminhas-me à força para um bem pior.

Os pais deste mundo querem que honremos os nossos pais, mas vocês nunca souberam falar com os vossos ou sobre os vossos. Aliás desde que a avó (o que resta dela) veio viver cá para casa, ainda te vemos menos. E sim o teu pai batia-te, e tiveste que começar a trabalhar aos 16 para não ter de pedir nada a ninguém. E tiveste na guerra e mataste e morreste... E então?

Mas à mesa do jantar é sempre moral e bons costumes. Mas no carro, quando vamos os dois, esqueces-te da moral e dos bons costumes: "Vê-me aquela... e faço isto e aquilo".

Vocês são todos uma merda pai. Querem uns filhos melhores e uma vida melhor. E dão-me um gelado - e compram um vestido à Ana, mas e então? Estão-nos sempre a comprar tudo. E depois claro que para nós tudo está à venda.

Mas e quando eu chorei porque a Sofia não quis sair comigo. Ou quando o Pedro foi para à prisão na noite em que fomos sair e nunca te pude contar? Quando naquele dia quase morri de tanto beber? E as noites em que não conseguia dormir com medo de ir para a escola?

E eu que me esqueci do que é ter com quem falar?

Sim queremos telemóveis e internet porque há sempre alguém que está do nosso lado, alguém que nos ouve, alguém que nos entende, e alguém que sabe que vocês não estão cá. Presos às memórias dos pais que não vos amaram, das namoradas que vos abandonaram ou do emprego que nunca tiveram.

Foda-se pai era só olhares para mim e dizeres-me que me amas.


"se te queres queimar lembra-te que TE AMO
e se te queres cortar lembra-te que TE AMO
e se te queres matar lembra-te que TE AMO
telefona-me antes que estejas morto,
em vez disso podemos fazer um plano,
envia-me uma mensagem, e eu serei teu amigo."Kimya Dawson
Loose Lips

sexta-feira, 28 de março de 2008

Alma Brasileira

por Bernardo Ramirez

A minha alma é brasileira! A F. e eu brincamos muitas vezes a dizer que ela é mais portuguesa que eu e eu mais brasileiro do que ela.

Sou um homem do mundo e a minha pátria é a língua portuguesa nesse imenso Atlântico que nos une, reune, abraça e emociona. Onde tantos ficaram e por onde tantos passam. Mas que acima de tudo nos une.

Nessa mundialidade adoro toda a música - mas a Musica Popular Brasileira abraça a minha alma e envolve-a. Umas vezes a rir e outras a chorar. Há muito por onde escolher.

Sou a música e a música sou eu. E o templo da MPB é apenas um http://loronix.blogspot.com/ - ou pelo menos é o maior, o mais vasto e o mais abundante (obrigado amigo M.S.). Desde que encontrei o LORONIX todos os dias descubro algo novo. Todos os dias enriqueço a minha discografia, todos os dias a minha alma cresce.

Mas há muito mais para sentir e para isso não são precisas palavras escritas. Fica a fronteira invisível do que sou e que vos ofereço. E por isso digo orgulhosamente:

A minha alma começa aqui


E termina aqui


E entre um e o outro estou eu múltiplo e complexo.

Amizade com Coração

por Bernardo Ramirez

Para quem não descobriu o que é a amizade profunda e sincera.

Ontem:

A.F.S: "A maior parte do tempo tu ou finges que te amas, ou não pensas nisso ou procuras a atenção dos outros, certo?"

EU: "Certo", com o coração escancarado.

Algodão, Líquido e Bruxas

Tu és o algodão que absorve o líquido com fugacidade, para que depressa seja gozado, quando o fósforo lhe atear o lume.
Queimas pouco a pouco, devagar, para teres mais gozo e assim o apagar, quando o quiseres.
Eu sou o líquido que torna a cena mais macabra. Mulher de unhas negras e perfume sufocante. Ela pega com as suas unhas enormes, um pau afiado para com o lume brincar. Decide apagar e acender quando lhe apetece e eu deixo-me levar, pela sua vontade e tu deixas-te levar pela sua conversa.
O cheiro a queimado é sufocante, tem um quê de perigoso, como o perfume daquela mulher.
O líquido deasparece. E resta o teu pó e a vontade daquela mulher que te olha e pena a mexer-te. Pega num cotonete e mistura os pedaços de algodão, com um restinho de líquido. Pega no isqueiro e acende de novo a fogueira do prazer...
Um dia chegou o fim... Nunca mais ninguém brincou, porque eu desisti, tu és um trapo e ela mais uma vez gozou, fez-se de vítima, só que partiu feliz.
Pedaços... é o que resta de um nada que queria ser tudo. Pedaços de odor obscuro e tom repulsivo. Pedaços de um jogo perigoso que só o mais esperto ganha. Pedaços que nem o amor, nem a inteligência une.
São pedaços de uma história amorosa a três. São pedaços daquela história que eu recordo... Recordo com boa intenção. Não conquistei o meu suave algodão, porque não tive lume que chegasse, nem existia chama, realmente. A culpa não foi da mulher, da bruxa... Mas do feitiço!

Ana Filipa Silva - 08.12.1997

quinta-feira, 27 de março de 2008

Dá-nos o teu Playmobil!!!

Vislumbre

Vejam aqui o vislumbre de um novo projecto.

Ana da Liberdade

Olho para o passado e parece que estou a ver um filme que não é meu e que não é de uma única pessoa.
Às vezes, era cobarde, outras uma heroína. Haviam momentos de grande alegria e outros de depressão. Visuais diferentes, pessoas diferentes, paisagens diferentes...
Compreendo-te... Andavas à procura do teu caminho, eras carente e insegura. Compreendo-te...
Rapariga de muitas Luas. Nem sempre fizeste o correcto, mas aquilo que o momento te pedia. Erraste perante os outros que têm valores morais complexos e diferentes dos teus.
Tu, que és eu, sempre foste precoce, porque a vida assim quis. Agora, queres ser criança-mulher e o mundo não o quer.
Não tenhas medo... Liberta-te! Ana da Liberdade.

Ana Filipa Silva - 09.12.97 18h

quarta-feira, 26 de março de 2008

Encontros

É com muita amizade que aceito o convite do Bernardo em começar a escrever neste espaço. É também um privilégio, pois sou fiel leitora desde o seu início.
A música de Ana Carolina e Seu Jorge fez-me querer também escrever sobre o amor. Aliás, ultimamente ando a brotar amor por todos os poros, à velocidade do crescimento da minha barriguinha. Ao som de uma das minha melodias preferidas de todos os tempos, cruzei em poucos minutos vários oceanos, povos, identidades e vontades diferentes. Fui encontrei-me numa das mais conhecidas favelas do Rio de Janeiro - a Cidade de Deus - que tive o privilégio de conhecer através de uns amigos que lá nasceram e lá se fizeram homens. Participaram no galardoado filme com o mesmo nome, ao lado de Seu Jorge, precisamente... e como eu estava sempre a cantarolar o 'é isso aí', levaram-me ao sítio onde ele, no final das filmagens, pegava no violão e com aquela voz LINDA lhes cantava esta e outras melodias... esta visita à Cidade de Deus marcou-me imenso, por todos os motivos... mas em especial pelo amor que estes rapazes têm por aquela favela que os viu crescer, a fé que têm nos homens e o orgulho em pertencer àquela comunidade. Eles trabalham hoje numa ONG que fundaram depois de findas as filmagens do Cidade de Deus e que ajuda jovens de comunidades pobres a encontrarem o seu lugar na vida e no mundo, através do audiovisual. Eles são o Cinema Nosso (www.cinemanosso.org.br).

Pecados de Encontros


Ana Filipa Silva - 1998

Obrigado, Bernardo, pela oportunidade que me estás a dar ao participar neste espaço tão bonito e feito, nota-se, com Amor.

Agradeço os comentários deixados aos meus posts. Todos eles são bem-vindos. Deixa-me feliz que os textos que partilho convosco vos toquem.

Sim, Angel of Light, não foi por acaso. Nada é por acaso. Tenho aprendido isso com as várias experiências. E como o Escabroso disse na vida há sempre os "e se...", mas esses não nos dão experiência, porque não se concretizam.
Ainda bem e a boa hora que este texto saiu da pen, onde estava arquivado, para a montra do Bom Tempo no Canal.
Partilho as minhas experiências convosco com todo o prazer. Por isso, obrigada por entrarem na minha Intimidade. Acho que podemos crescer melhor em intimidade! Isto é, com transparência. Somos todos iguais, apesar das nossas diferenças. E, por vezes, esquecemo-nos disso.
Gosto que me leiam. Peço-vos, então, que não resistam... e leiam tudo o que no Bom Tempo no Canal for escrito. Comentem sempre que quiseres.

Este exercício de mexer no baú tem-me feito muito bem.

Estou grata por existirem e estarem comigo nesta aventura. Sinto que estou a acompanha. E é tão bom estar acompanhada!

E aqui vos deixo mais uma partilha. Sei que esta é mais longa, mas acredito que também vos recordará momentos de vida que fazem parte da vossa linha do tempo!

terça-feira, 25 de março de 2008

O que é o AMOR afinal?

Isto é o AMOR!




É Isso Aí
Ana Carolina

Composição: Damien Rice (vers.: Ana Carolina / N. Siqueira)

É isso aí
Como a gente achou que ia ser
A vida tão simples é boa
Quase sempre
É isso aí
Os passos vão pelas ruas
Ninguém reparou na lua
A vida sempre continua

Eu não sei parar de te olhar
Eu não sei parar de te olhar
Não vou parar de te olhar
Eu não me canso de olhar
Não sei parar
De te olhar

É isso aí
Há quem acredite em milagres
Há quem cometa maldades
Há quem não saiba dizer a verdade

É isso aí
Um vendedor de flores
Ensinar seus filhos a escolher seus amores

Eu não sei parar de te olhar
Eu não sei parar de te olhar
Não vou parar de te olhar
Eu não me canso de olhar
Não vou parar de te olhar

A justiça num namoro!



Todos dizem o mesmo: “Ainda o amas!? Tudo te faz lembrar o Nelo.”. Eu tenho que aceitar, porque é verdade e, sobretudo, devido a ele ter sido o meu primeiro amor. Engraçado!
Feliz ou infelizmente, fui uma rapariga de muitos rapazes, que se apelidava de conhecedora e imbatível. E, de repente, a vida passa-nos uma rasteira destas! Afinal, o feitiço virou-se contra a feitiçeira.
Como conheci o Nelo? Bem, foi através de uma colega de turma. Onde? Num pub. Naquela data namorava com um dread, e andava com a cabeça nas nuvens. A conversa que tinha com aquele rapaz fazia-me despertar, nem que por minutos, para o antagonismo do que queria fazer e andava a fazer.
Houve desde o primeiro olhar uma atracção que, apesar de eu namorar, foi satisfeita. Sim! Andava com os dois, até que me tive de decidir. Não sei a razão ao certo, mas não tive a coragem de assumir um relacionamento com ele e continuei com o meu namorado.
Passou um ano de telefonemas e convites recusados. Até que, num dia de imensa vulnerabilidade, nos cruzámos e a atracção fez click de novo. Passado alguns dias, namoravamos, agora, sem mais ninguém.
A minha relação com ele sempre tivera muito humor e magia. O namoro não perdera essas qualidades, ganhára outras que fazem dos dois meses passados juntos uma recordação positiva.
Certamente, rirão do sofrimento pelo pouco tempo de namoro, porém só quem amou é que sabe dar valor a todos os minutos. Cruzei, por acaso, com um sentimento novo e tão calmo, tão puro, tão bonito e, depois, tão doloroso. Julgava conhecer tudo, no entanto, só sabia o sabor dos beijos carregados de paixão e outra qualquer sensação, nada semelhante ao carinho suave de um sentimento leve de amor.
Dia após dia, palavra após palavra, acto após acto crescia em mim, a vontade de viver para sempre este sentimento. Tudo era perfeito, pensava que, finalmente, tinha chegado a minha vez, depois de tantos namoros turbulentos e demasiado irracionais.
Três dias a seguir ao segundo mês de aniversário do menino que crescera a partir do dia dois de Fevereiro, que deu início ao nosso namoro, estávamos nós no carro, em pleno acto sexual, quando toca o telemóvel e tudo caiu por terra.
Senti-me suja e usada como um objecto do qual se tira prazer e, depois, com um simples toque sonoro e uma voz feminina do outro lado, se remete para o lixo.
A beleza intocável que vivera todos os dias com ele, tinha o seu fim ali, com a descoberta de que havia outra. Quem me está a ler, estará a dizer que tive a paga. Não! A diferença é que eu sempre fora sincera com ele. Ele sabia que eu namorava, enquanto que, desta vez, ele dizia-me ser a única e a sua eterna namorada. Foi desonesto e constrangedor.
Só que não é isso que me custa. Dói-me fundo, bem profundo, o facto de ainda, passado também dois meses, ainda o amar e estar com a esperança que ele cresça e se torne sincero e honesto. Sinto-me ridícula, porque eu é que fora traída e ainda carrego comigo esta vontade de voltar a estar com ele.
É doloroso sentirmo-nos impotentes, perante situações como esta. Parece que o namoro com ele apagou tudo o que se passou antes e que a minha vida se resume a ele. Acreditem ou não, já não sei como dar-me com outros rapazes! Sinto a frustração de ter tanto para dar e ninguém, particularmente ele, não saber receber. Perco-me em palavras cruas, mas que são tentativas inúteis de deitar para fora este sentimento que já não se aproveita, pois não tem receptor.
Penso nele, como único, esplendoroso e, depressa, me invade a imagem de puto, de traidor e inconsequente. Sou parva! O momento negro é, a maior parte das vezes, clareado pelo amor que sinto por ele.
Que frustração! Queria deitar este sentimento num caixote, como se deita algo que já não tem utilidade, no entanto, não existe qualquer facilidade nisso, afinal, não deixo de ser humana, de ser pessoa.
É difícil ver casais felizes de namorados que se amam. Ele que põe o braço sobre os ombros dela; ele que, agora, também está feliz com outra... Não é, somente por recordar a felicidade que possa ter ao lado de outra, mas também aquela que vivi com ele e que poderia sentir ainda. No entanto, a vida parece que me quer punir, pelas traições sem sentido de culpa que pratiquei, durante várias relações, até de amizade.
Uns chamam-lhe destino, outros dizem que é Deus e outros que é a vida. Eu chamo-lhe justiça. Não tenho forças para sentir desejo de vingança, nem vejo essa acção como madura, só que acredito que será feita justiça e ele reconhecerá o seu erro, com dor ou sem ela. Boa sorte, para vocês!

Ana Filipa Silva - 1997

segunda-feira, 24 de março de 2008

Bernardo, o Jardineiro

por Bernardo Ramirez

Há uns dias atrás debatia animadamente as diferentes dimensões do que faço na vida. E como me sentia um pouco perdido. Perdido não no que sonho fazer, mas na necessidade complicada e complexa de me caracterizar no que faço.

No trabalho que faço de dia, o qual dedico oito horas, é claro de onde venho e para onde vou. Mas mais importante ainda, é claro a legitimidade social para o que faço: tenho um currículo. E se alguém quiser saber eu posso mostrar. Por A mais B.

Mas a minha profissão e vocação é outra. Uma que pratico no fim de semana e aos fins da tarde. Por enquanto apenas... Esse sou eu, o meu ser, a minha verdade, o meu chamamento.

Mas para este trabalho não tenho currículo. Não estudei numa universidade, nem tenho documentos oficiais. Neste trabalho tenho a minha vontade e o meu desejo. Sinto-me como um Jardineiro. Profundamente Jardineiro. Mas isso não se escreve num CV, nem se apresenta numa biografia. Porquê? (perguntou-me a V.A. com muita leveza) Não lhe soube responder.

Mas é isso que sou. Ainda meio envergonhado e timidamente. Mas sou. Sou um Jardineiro. Do meu jardim, da minha vida.

Agora só falta colocar isto no meu currículo.

Um bilhete a Edith Wharton


Fiquei desiludida com a forma como tudo acabou, pois esperava que eles tivessem mais força, que eles tomassem outros rumos e, sobretudo, que o destino escrito por ele fosse mais forte do que uma aceitação simples das convenções.
A Idade da Inocência chegou ao fim depois de me ter acompanhado desde há algum tempo. Agora, sem ela, sem aqueles meus amigos e amigas que me confessavam até aquilo que não sabiam!; sem elas... como vai continuar os meus dias?! Apeguei-me a elas e, neste momento, já partiram assim, sem sequer manter contacto comigo nos próximos tempos!?
Ficou tudo em aberto, mas já acabado. Concordo que não gostei do último capítulo. Andei sempre na esperança de que o desfecho fosse outro. Queria que ele ficasse com ela, mesmo que isso fosse o início de uma dor enorme no coração da pobre May. Por outro lado, este amor quase platónico sabe bem. E, logo, se fosse concretizado talvez não soubesse a nada. Com estes personagens e toda a narrativa, com esta autora, aprendi tanto e não queria assim fazer esquecer este meu professor sem voltar a saber mais dele.
Ana Filipa Silva 2000

quinta-feira, 20 de março de 2008

Sem vergonha no pedir

por Bernardo Ramirez

Quase todos os anos me perguntam o que quero para o aniversário. Há um ano ou dois decidi pedir que colaborassem na aquisição de um móvel para a sala e para isso se fez um belo mealheiro. Podem ler esse post aqui. E os agradecimentos aqui.

Este ano ofereço-vos várias possibilidades. Porque o primeiro passo para se ter é desejar-se as coisas, e por isso vos deixo a minha lista de pedidos sem nenhuma ordem em especial.



Disco duro externo de 500 GB
- para poder formatar o computador e guardar todas aquelas preciosas informações.

Gosto em especial deste!







Máquina de cortar o cabelo
- que entre as diversas possibilidades permite aparar esta barba sexy com que ando ultimamente.








Máquina de fazer pão - sim pode-se fazer à mão, mas é mais fácil e simples usar uma máquina. Além disso é um sonho antigo - MF sua traidora mais atenção ao catálogo do LIDL.








Playmobil - Constelações - para poder fazer terapias personalizadas. Cada conjunto comprado cá custa 60 euros - vindo de fora custa 45 euros mais portes, mas podem saber mais aqui.










Livro "Dia a Dia com os Anjos" de Marta Cabeza - explica-se por si. Podem ver mais aqui.









Livro "Curso em Milagres"
- explica-se por si. Mas podem saber mais sobre ele aqui.











Qualquer obra sobre constelações
- explica-se por si.








Tanto por onde escolher. Façam parcerias, equipas, loucuras.

Para esclarecimentos, agendamentos, planeamentos e outros entos contactar a minha cara metade F.

Cruzamentos

por Bernardo Ramirez

Há muitas pessoas com quem nos cruzamos na vida. Muitas de quem gostamos, outras tantas que nem por isso. A vida são pessoas. Eu gosto das pessoas.

Mas na vida há aquelas pessoas! Aquelas com quem nos cruzamos e que paramos. Paramos para olhar, para cumprimentar, para dizer bom dia. E depois gostar, e querer mais e ficar amigo.

E depois partilhar e encantar e caminhar lado a lado.

A Ana Baptista é assim. Encontrámo-nos na universidade já faz tempo. A princípio não ligámos muito um ao outro, mas de forma sólida e tranquila, como são todas as sinceras amizades, fomos nos conhecendo melhor e gostando cada vez mais um do outro. Ela também tem um blog que podem visitar: chama-se Projecto de gente e é verdadeiramente uma ode à vida.

Convidei-a para escrever aqui. E ela disse sim. Bem vinda.

O Puzzle dos Livros


Era uma vez uma menina que brincava com os livros. Dizia serem como peças de puzzle.
Leu primeiro O Fio da Navalha em que aprendeu muito sobre a sociedade americana dos finais do século XIX e início do século XX . Tanto que deixou quase todas as páginas do livro riscadas. Considerou-o uma bíblia de relações sociais. Quando o acabou sentiu-se perdida. Tinha de encontrar a peça que encaixava com aquele que deixava para trás.
Da sua estante retirou uma outra obra. Essa já a tinha tentado encaixar anteriormente no puzzle dos livros, mas não conseguiu, pois não encontrava a posição devida ou não correspondia à forma. Deu início à sua leitura. Pareceu-lhe um pouco maçadora, no entanto esforçou-se por não dificultar o jogo e, então, apercebeu-se da importância daquela peça. Aos poucos ia encontrando semelhanças com a anterior e era divertido ver que não era tudo mera ficção, porque se o fosse não se repetiria por mão de autores tão diferentes.
por Ana Filipa Silva

quarta-feira, 19 de março de 2008

Casa de Carcavelos - Passo I

por Bernardo Ramirez

Dedicado à mãe Elvina

Casa em Carcavelos

Eu quero uma casa que me faça feliz. Uma casa que me faça crescer. Uma casa que sinta o mar.

Eu quero uma casa com jardim. Uma casa com crianças. Uma casa com sol e pessoas a entrar e a sair.

Eu quero uma casa bonita e espaçosa. Uma casa com amor e humor. Quero uma casa para viver.

Hoje dei um passo muito grande nesse sentido.

Obrigado pela confiança, pelo carinho e pela oferta.

Esta música é para ti mãe:




Já vos disse: toca a ouvir

por Bernardo Ramirez

Podia dizer muita coisa, mas não vou dizer nada.

Ouçam isto.

Com atenção!!!

Fotografias de criança

Perdi a alegria de olhar para as fotografias. Lá vai o tempo em que me deliciava ao folhear do meu álbum, sentada no sofá, mexendo ora no cabelo, ora nos pés descalços que muito se juntavam, pela posição de ângulo que as pernas tomavam.
Agora, não sinto mais prazer em ver ali a minha imagem estampada. As ancas estão largas, o cabelo sem vida, a pele estragada e não correspondo ao que antes idealizei.
Talvez isto seja fruto da idade, pois lembro-me das fugas que a minha mãe fazia e ainda faz às fotografias. É que naquela folha fina de papel fotográfico mostramo-nos a nós mesmos e, então, descobrimos que o espelho engana.
Alegria?! Tenho-a quando a Joaninha me beija sem eu lhe pedir. Bate-me uma emoção forte nos momentos em que partilho o meu tempo com ela. É tão bom ouvi-la gritar o meu nome. Aí, sinto realmente alegria.
A ela já eu gosto de ver nas fotos. Umas dão-nos a conhecer o seu lado de reguila, outras a sua ternura e outras mostrando outros lados da sua pessoa.
Se calhar, quando ela chegar à minha idade, talvez já não goste de fotografias e também tenha mais alegria em gravar na sua mente todos os momentos vividos.

As alegrias são efémeras. A memória pode guardá-las e a vivência desfigurá-las.

Texto de 1999

terça-feira, 18 de março de 2008

A relação familiar está em declínio!



"Hoje, vou contar uma história que infelizmente, para muitos e para mim, é visível em vários níveis de vida e diferentes regiões. E que aconteceu com alguém perto, muito perto de mim.
Baseia-se principalmente na liberdade que os pais dão aos filhos e da maneira como os pais tratam os filhos.

Sofia era uma rapariga cheia de ambições, queria a todo o custo ser: rica, logo independente dos pais, e actriz.
O senhor José e senhora Beatriz eram os seus pais que tinham um feitio especial ou até mesmo espacial. Mário era o nome do seu irmão, esse era mais velho do que ela oito anos, porém davam-se super bem.
Certo dia, estava a jovem a ler o jornal, quando viu em letras destacadas:

-Actrizes: Precisam-se para o maior e melhor filme português
T.: 9596519 Paula Sousa

Não fez mais nada; telefonou! Do outro lado, atendeu uma rapariga de voz meiga e calma, era a dita Paula.
-Olá, eu sou a Sofia Pires e gostava de saber mais acerca do anúncio que publicaram no jornal Roménia!-disse Sofia.
-Então, é assim! Eu sou assistente do realizador Manuel Fonseca e estou a registar todas as inscrições de meninas e meninos dos 14 ao 17 anos.-esclareceu Paula, porém interrompida por Sofia.
-Ah, assim está óptimo, pois eu tenho 16 anos. E quero mesmo ser actriz.
Palavra puxa palavra e ficaram a tagarelar horas e horas. Quando desligaram, Sofia disse:
-Já está no papo!
Ao mesmo tempo que Paula exclamava:
-Acho que não tem qualquer costela para actriz, mas bem...!

Passaram-se alguns meses, onde o convívio harmonioso entre o Srº José e a sua filha fazia-se sentir. O afecto que Sofia tinha pelo seu pai era grande e bonito, o mesmo não se via da parte do Srº José. Mal sabia ela o que se iria passar! Todavia este clima de muito e belo afecto só existia entre, ou melhor, de filha para pai, porque de pai para filha e de filha para mãe não se tornava visível tal sentimento.
Sofia, em pequenina, preferia o colo da mãe ao do pai. Mas quando atingiu os 10 anos, tornou-se, sem dúvida, muito mais amiga do pai; vendo-se, mesmo, um pouco de desprezo perante a Srª Beatriz, como mãe e pessoa com defeitos e qualidades. Às vezes, as trocas de preferências são bem casuais, mas esta teve um porquê.

A jovem rapariga esperava que a contactassem, porém nada havia acontecido. Por isso, tomou a liberdade de telefonar à assistente Paula, para lhe arrevivar a memória. Tornando-se regular o seu acto.
Paula, devido a tanta insistência, deu-lhe uma possibilidade de fazer um papel secundário. O que para Sofia já era uma felicidade.
Assim foi, trabalho a seguir de trabalho, todavia secundário. Porém Sofia não tinha vergonha, pois gostava de o fazer e tinha esperança de ser um bom passo.
Os pais da jovem sabiam que era realmente um prazer para ela o que essa fazia. Não compreendiam, mas aceitavam tal atitude.
Num determinado dia, lá por volta dos fins de Outubro, estava Sofia sozinha em casa, quando o telefone tocou. Era Paula, queria perguntar à jovem actriz se esse estava disposta a fazer uma peça naquela noite. Sofia sem mais nada, disse que sim, pois pensava (!) que seus pais não colocariam qualquer problema à sua saída.
Como o telefone da casa, onde seus pais estavam a passar alguns dias, encontrava-se desligado, Sofia tomou a liberdade de telefonar para casa dos amigos do Srº José e pedir-lhes que comunicassem o seu acto. Também, contactou Rosa a namorada de seu irmão e deixou na mesa da cozinha um papel que dizia a seus pais o porquê dela estar ausente e as suas desculpas por não os poder contactar antes.
Sofia tomou tal acto, porque calculava que seus pais iriam compreender porque partira algumas horas para o seu mundo ( representação ). Mas não foi assim que seus pais encararam a situação. Gritaram-lhes palavras que até hoje a adolescente guarda na memória, assim como tudo o que seus pais e familiares lhe fizeram.
A rapariga pensou mais de mil vezes no seu acto e não encontrou qualquer razão para que seus pais reagissem de tal forma. Ela era uma rapariga responsável que nunca tocou na Droga, no tabaco, na bebida... vivia para o seu sonho e para o futuro, pois queria que esse fosse sorridente e sem preocupações.
Como ela via estampado nos olhos de seus pais a infelicidade de não poderem ter mais, lutava para que isso não lhe acontecesse. Tratava de si e dos seus bens como ninguém já vira outro adolescente fazer.
Porém seus pais não viram que Sofia era realmente excepcional. Queriam mandar nela como que mandassem num cão, essa tomava tal acto por cobardia do Srº José e Srª Beatriz, pois é muito fácil obrigar alguém a fazer algo quando esse obrigatoriamente já vive sob as suas decisões.

Afinal, o que é uma relação? Cá para mim, é o acto de troca de amor, atitudes...
O mesmo pensava Sofia. Mas no fundo, no fundo não era o que acontecia, pois ela dava provas e mais provas de afecto, atitudes de responsabilidade e outros, no entanto seus pais só lhe davam abrigo e comida em troca de tanta felicidade que ela, muitas vezes, lhes provocava.
Ela não queria muito, só um pouco mais de liberdade, porque essa sabia até que ponto devia de ir. Não era como todos os outros jovens que aproveitavam essa liberdade para fazer tudo e mais alguma coisa. Ela aprendeu isso com alguma experiência de vida que não era muito longa, mas já dava para aprender os limites.
Bem, ela não conseguiu chegar a nenhuma conclusão e ainda hoje espera mais um pouco de liberdade, porém, mesmo sem os pais notarem ela lutava pela sua liberdade. E já mais acabará a sua luta.

A história não é muito bonita, mas dá para explicar através de umas pequenas cenas o que um jovem sente quando lhe querem cortar o seu sonho. Muitas vezes, por irresponsabilidade dos pais os adolescentes entram numa depressão tal que os levam a cometer actos terríveis, no entanto existem jovens que tentam encarar certas situações como mais um passo da sua vida, mais uma experiência...
Só peço uma coisa, aos pais lerem ou estão a ler:

Estimados pais:

Olhem para o que os seus filhos fazem; em todos os pontos de vista; do seu, do dele e do geral e estipulem as normas de convivência familiar pelas suas atitudes. Às vezes, a solução para muitos problemas estão nas vossas mãos. E vós o que fazeis? Nada ou então, tratais seus filhos como que prisioneiros, sem lhes mostrar o amor que ( eu sei ) vós tendes dentro do vosso coração.
Dêem mais tempo aos seus filhos, eles merecem. Não em todos os casos, mas em alguns.
Beijinhos e boa sorte aos novos educadores, futuros pais... desta vossa amiga. Só mais uma coisa: reflictam sobre a seguinte questão - o que é o amor? Uma relação? Qual é a vergonha de expôr os nosso sentimentos?"

Nota: Este texto foi escrito há largos anos. É muito interessante, como a árvore já está na semente. Por volta dos meus 14 anos, já escrevia sobre a família. Hoje, sou uma formanda de Constelações Familiares.

segunda-feira, 17 de março de 2008

Reflexos da Literatura


Gosto de me ver reflectido.
Gosto de me ver.
Gosto desse encontro com o ser.
Assusto-me no entanto por vezes com o tamanho das letras.
dos livros, do ser, do movimento.
São bolas de pinball que se agitam em mim.
Nos matrecos insatisfeitos do meu ser interior.
Gosto de saber.
Gosto de aprender.
Mas a vida é tão grande que só no imenso...
só no pequeno vazio do sem sentido, do ideal e do original...
Só nesse lugar nos podemos encontrar.
São reflexos de um ser literário.
São reflexos da literatura.
São a língua portuguesa.

sexta-feira, 14 de março de 2008

Que belos números as palavras têm...

A hora certa, não sei... O piso era o segundo e a porta não precisava de identificação, pois as portas de biblioteca nós conhecemos de longe. E aquela era perra e de vidro maciço, um pouco como a dizer: “ Só entra quem vier por bem!”. Não deixava passar para fora qualquer tipo de ruído, até porque numa biblioteca, o culto silencioso é uma forma de concentração e de reconhecimento.
Os alunos eram poucos e os professores quase nenhuns. Sozinho estava o sítio das letras, das inúmeras palavras, das ilimitadas frases, enfim dos números dizíveis. O primeiro volume; a página número tal; o início de uma Estação - dia 21 de Março; um momento do dia, marcado por uma hora, a qual contém números e é discreta por versos bonitos que nem os podemos medir; o tempo que passa, porém deixa-se vincar pelo relógio... tempo esse que se reflecte em dias, semanas, meses, anos, décadas e até séculos; o eu que transmite a singularidade, o contrário do nós que já nos remete para o plural, para o mais do que um; a morte, a partida, o nunca e o sempre, a aurora, a noite, o hoje, o amanhã, o ontem, as mãos e os dedos, as árvores com o seu tronco, cópula, ramos e folhas, o acordar e dormir, o levantar e deitar... A dança que é construída por tempos ritmados, com intervalos que também expressão números. Adão e Eva, o primeiro casal ou o macaco, o primeiro Homem. Quando? Aqui! Que belos números têm as palavras...

Meio-dia
Meio-dia. Um canto da praia sem ninguém.
O sol no alto, fundo, enorme, aberto,
Tornou o céu de todo o deus deserto.
A luz cai implacável como um castigo.
Não há fantasmas nem almas,
E o mar imenso solitário e antigo,
Parece bater palmas.


O contar é uma forma de falar, como o enumerar um modo de soletrar. Existe uma relação!
Penso, agora, que seria meio-dia quando atravessei as portas daquele museu. Os livros, nas suas estantes, imponentes olhavam-me. Eu não quis deixá-los sem resposta e, logo, corri para eles, acariciei-os como se fossem estátuas de puro marfim. Eram monumentos abismais, cuja dimensão era infinitamente inexplicável. São testamentos doados à humanidade. Olhem, que é verdade!

É esta a hora...
É esta a hora perfeita em que se cala
O confuso murmurar das gentes
E dentro de nós finalmente fala
A voz grave dos sonhos indolentes.

É esta a hora em que as rosas são as rosas
Que floriram nos jardins persas
Onde Saadi e Hafiz as viram e as amaram.
É esta a hora das vozes misteriosas
Que os meus desejos preferiram e chamaram.
É esta a hora das longas conversas
Das folhas com as folhas unicamente.
É esta a hora em que o tempo é abolido
E nem sequer conheço a minha face.


No meio deles eu queria morrer. Gostava de morar entre as suas páginas, era tão doce dormir sobre os poemas escritos por ti. Quando morrer, quero - exijo - que me embrulhem nas suas folhas. No momento, em que os bichos me quiserem devorar vou estar protegida pela palavras dos deuses de Olimpo que desastres mil tinha pelas mãos de Homero ou, então, permitam-me, ó, bichos danados, que seja a carne da sandes de literatura Platónica. Proibo que me cubram de histórias americanas, como Erich Segal escreve. Isso, não!
Adeus, chegou o meu número!
Requesitei duas obras maravilhosas: O rei dos Lumes, do nosso português Américo Guerreiro de Sousa e Os meus Amores, da autoria de Trindade Coelho. O homem de cabelos encaracolados, pretos tingidos de fios brancos, não perguntou e eu nada disse. A verdade é que nem tenho cartão da biblioteca. Quer dizer, daquela biblioteca. Virei as costas e entrei em luta com as portas. Já cá fora e sem arranhões, andava pelos corredores, como se vaidosa fosse. Desci as escadas e encontrei o Saramago. O primeiro Homem que foi à Lua por sucesso e por inveja, dos outros, claro.
Trimmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmm, o despertador! 7 horas e 20 vinte minutos. O autocarro é daqui a igual número de minutos e ainda tenho de fazer tanta coisa. Estes sonhos desorganizam-me sempre as ideias. Agora... 8 horas, toque mental para estar já sentada à espera das palavras, que não são poucas, do professor de Língua e Cultura Portuguesa. Duas horas a ouvi-lo!?! Depois...
E assim se vive nos tempos de hoje. Um dia a seguir ao outro, numa rotina que só é aliviada pelas realidades diferentes que surgem nocturnamente.

Nota: Os poemas transcritos são da autora Sophia de Mello Breyner Andresen e retirados do livro Poesia I.

quarta-feira, 12 de março de 2008

A metade de cima ou a de baixo?

Dou a boas vindas à Ana Filipa Silva. Ela é segunda pessoa que convido para pertencer ao Bom Tempo no Canal. Também é formada em Comunicação e tem também um blog chamado Coisas Banais


O que temos em comum é uma visão nova sobre o mundo e sobre as pessoas que os habitam. Essa visão materializa-se nas Constelações e por isso é com alegria que a recebo aqui.

A história que se segue foi me oferecida pelo meu amigo LH e julgo que ilumina a natureza humana na perfeição.

A metade de cima ou a de baixo?

Um feliz casal dinamarquês partilhava um casamento há 25 anos. Como todas as relações também esta tinha os seus rituais. Todos os domingos o casal ia tranquilamente à padaria do bairro comprar um pão especial para o pequeno almoço. Era um pão maravilhoso e que enchia os seus domingos de alegria.

Chegando a casa preparavam o pequeno almoço e dividiam o pão ao meio. O homem ficava sempre com a metade de cima, e a mulher sempre com a metade de baixo. E eram felizes. E era sempre assim.

Durante 25 anos, todos os domingos, a metade de cima e a metade de baixo.

Neste domingo, o marido muito feliz vira-se para a sua esposa e diz: "Fico feliz por tu gostares mais da metade de baixo." De repente a mulher abre muito os olhos, olha para o marido e diz: "Mas eu gosto mais da de cima! Só como a de baixo porque achei que tu gostavas mais da de cima." O homem quase incrédulo vira-se para a mulher e diz: "Mas eu gosto mais da de baixo. Sempre te dei a de baixo porque achei que era a que tu gostavas mais."

25 anos ...

sexta-feira, 7 de março de 2008

Voz dorminhoca

Ultimamente tem-me acontecido algo estranho: quando durante a noite ou quando acordo de manhã tenho necessidade de falar não saí som pela minha boca. A minha voz está completamente a dormir. E são precisos alguns segundos e por vezes até minutos para a convencer a trabalhar.

Queria saber se alguém conhece um remédio para vozes dorminhocas ou com problemas em acordar cedo.

quinta-feira, 6 de março de 2008

Votar

Não doi e é fácil. Aqui já do lado direito está uma votação. Pedia-vos que votassem. É fácil, é barato, mas não dá milhões. E aqui o Bernardo agradecia.

Comentários mais detalhados podem deixá-los aqui a baixo.

Obrigodo malta.

quarta-feira, 5 de março de 2008

E a voltinha do fim-de-semana vai para....




A não perder mesmo. Sobretudo para quem ainda não se esqueceu de como é ser criança!

segunda-feira, 3 de março de 2008

Somos 10000

No dia 31 de Agosto de 2005 surgia, com muito entusiasmo, o Bom Tempo no Canal. Como todas as coisas importantes resolvi fazer uma Abertura Oficial. Na altura ainda não sabia bem o que ia acontecer. Hoje sei que este é um blog sobre pessoas e para pessoas. Sobre comunicação, sobre sentimentos e sobre a alegria de se estar vivo.

Dois anos e meio depois o Bom Tempo no Canal cresceu. As coisas mais sérias e profissionais passaram para o bernardoramirez.com e o Bom Tempo no Canal ficou como o espaço de lazer e de entretenimento.

Assim, agora que já cresceu, achei interessante convidar amigos para colaborarem na sua escrita. Como que saindo da infância (solitária e privada) para uma adolescência comunitária. A primeira "convidada" é a Susana Domingues. Este convite ocorre por várias razões. Primeiro, porque desde que nos conhecemos que partilhámos vários sonhos na comunicação: o sonho de sermos comunicadores culturais e de criarmos a associação de comunicadores culturais, foi um deles. Segundo, porque a escrita dela (que podem encontrar no blog Aqui Somos Felizes) tem uma forma que me delicia e que senti ia enriquecer este espaço virtual.

E por isso dou as boas vindas à Susana e as boas vindas aos responsáveis pelas 10.000 visitas do Bom Tempo no Canal. Que a vossa jornada de leitura e de navegação vos entusiasme tanto como a mim.

(segundo a própria isto é um auto retrato)