quinta-feira, 24 de abril de 2008

É a vida...

Tomei banho às quatro da manhã. Todos foram dormir. Na sala, estão corpos adormecidos que preenchem o espaço, fazendo-me sentir aconchegada, mas, por ser a única acordada, sinto-me só.
Apetece-me sair. Deixá-los aqui e ir ver o pôr-do-sol para a piscina. Não! Iria acordá-los. Fico-me, aqui, sentada na parte da sala que me coube, e olho para o nada, o vazio, o escuro, o infinito.
Vou? Não sou? Estou indecisa! Mas não posso acordá-los. Prefiro ficar.
Levanto-me e espreito pela janela, aquilo que a cortina me deixa ver. Vejo o sol a aparecer devagar. Primeiro, um azul violeta, depois cor-de-laranja e, agora, amarelo.
Hoje, já sei o encanto do pôr-do-sol! Tenho vontade de me libertar, no entanto, não posso interferir com a liberdade dos outros que, depois de momentos de boémia, querem descansar.
Os outros... Têm sempre a ver com a nossa vida. Deixamos de tomar decisões, ou atitudes, por causa do incómodo que podemos causar aos outros. Os outros!!!
Olho para todos os cantos. Mais uma vez, olho os corpos moles que ali permanecem, ressonando. E quase que olho para mim, sentada em cima da grande almofada que é a minha cama.
Pronto! Não adianta... Rendo-me! Tenho que dormir! É a vida...


Ana Filipa Silva - 1997

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