Saltámos a parte do muro que estava partida e clandestinamente penetrámos num espaço proibido. Com rebeldia deixámo-nos levar pela noite de estrelas com sabor a Verão.
Entre árvores, mosquitos e outros bichinhos, rebolámos pela alegria de ter, ali ao lado, uma pessoa apetecível, sem resistências de maior.
Os pequenos obstáculos até dão um gosto especial ao jogo de sedução!
Recusei exprimi-lo, mas o meu corpo pedia o dele tanto ou mais do que as suas mãos sobre a minha pele e os sugares amorosos pretendiam revelar.
Pergunto-me... porque é que as raparigas têm sempre dificuldade a assumir os seus anseios e a realizá-los. Mesmo eu, que me chamam de maluca e reconheço que tenho um pouco de louca, sinto demasiadas vezes o peso dos preconceitos e das críticas sociais. Tenho momentos onde rompo com todas as teias que a aranha social teceu, no entanto há outras situações que queria ter maior liberdade psíquica quanto ao possível sermão da sociedade. Gostava de ser como os animais que fazem tudo sem as menores vergonhas!
Desejo correr pelo prado, deitar-me sobre ele e fazer amor com o sol escaldante de uma tarde de Verão, sem dores de consciência, sem pensar nas consequências futuras. Claro que a luz é uma presença, mas raramente a notamos. A luz do saber, da liberdade, do viver como um animal... É pena que hajam animais rafeiros, vagabundos a morrer à fome... E existam animais de estimação que vivem que nem lordes, comendo o que poderia ser distribuído por mais alguns.
Adorava ter a capacidade animal de não me prender à minha presa, mesmo depois dela ser fruto de desejo e satisfação. Simplesmente ignorar a ligação momentânea. Não fazer daquele momento um futuro projectado sob a emoção de estar apaixonado por alguém. Tudo seria tão mais anárquico, mas também saboroso, já que a dor seria substituída por leves pancadas de amor.
Se eu fosse um ser irracional, na minha clandestinidade nocturna, teria deixado o meu corpo guiar-me, sem pôr travão às suas ansiedades. Dentro do espaço limitado por aquele muro certamente as coisas teriam corrido de outra forma. O buraco na parede ganhava um sentido diferente, muito mais tocante do que aquele que tem hoje.
Sim! Ser animal é saltar o muro e navegar pelas ondas dos impulsos. Libertarmo-nos dos nossos medos. Saltaria concerteza outra vez e mais outra e mais aquelas que o meu instinto provocasse...
Será que os animais também têm sonhos tão nítidos, como aqueles que eu sonho?! As imagens que invadem a minha visão dormente estão repletas de energia, de provocações irreais e necessidades satisfeitas da forma mais desejável. Talvez o impulso selvático venha dos sonhos... freudianos.
Ana Filipa Silva - 1998
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