terça-feira, 28 de fevereiro de 2006

Pintainho


Estavam os dois sentados. Um no colo da outra. Pintainho no colo da avó galinha. Pintainho bebé ou bebé pintainho, afinal é Carnaval e ninguém leva a mal.
Avó galinha de rugas-tempo-idade. Com tanto tempo na cara que se confunde a eternidade no seu rosto. Rosto disfarçado de história, cheia de linhas e traços que ocultam como era há 60 anos atrás. Mas seca, mas vazia de amor. Será esse o tempo? Assim a apagar os afectos e a encher as linhas e os traços do rosto?
E o pinto tão bebé, tão infantil, tão doce.
O passado e o futuro, no colo um do outro.
Será que a avó galinha não se alegra com o pinto? Será que não vê que o pinto é o renascer do tempo que passou. A esperança de uma nova vida?
Ou será que eles se complementam: o que passou, e o que virá?
Avó galinha de todos nós, que histórias tem o teu corpo para contar? O pintainho bebé saiu de ti! Haja esperança!

Metro de Lisboa


Ultimamente tenho voltado a usufruir deste meio de transporte tão recorrente na vida de grande parte dos lisboetas. Confesso que o carro, como veículo particular, tem muitas comodidades, mas o Metro tem outras funções. Preenche uma lacuna que quem viaja de carro não consegue preencher: participar da vida social, do dia-a-dia, dos lisboetas.
O Metro acaba por ser a metáfora perfeita da sociedade em que vivemos. Do nosso tempo.
Por fora, passa muito depressa, sempre a correr, sempre a apitar para aqui, a apitar para ali. E mais e mais depressa, sempre a correr. E a música? Mas sempre a transitar entre estações, mais ou menos bonitas, e outros túneis bem negros e sujos.
Mas por dentro, limpo e cristalizado. Parado. Cheio de partes desconexas, a habitar um espaço cuidado esteticamente. Parados. Fisicamente?
É tão enorme contracenso. Mas não incomum. A pressa, a paralisia.
E até parece que as pessoas com que me cruzo, são as mesmas de há tanto tempo atrás, quando ainda nem tinha carta.
Até encontrei lá o rapaz do acordeão e do cãozinho, que costumava morar perto da Universidade Católica e que julguei, vejam a ingenuidade, que ou tinha sido comido pelo cãozinho ou estaria em qualquer estabelecimento para pessoas que usam cães e criancinhas para obter rendimentos adicionais.
Afinal estava no metro. Sempre com tanta pressa. Ele, os cegos, as Ucranianas part-time, com crianças full-time. Mas sempre parados, sempre tão distantes, por estarmos presos naquele espaço esteticamente desenhado para tranquilizar.
“Já falta pouco… Amanhã é outra correria.”
E se fosse ao contrário?
Se o Metro parasse, e fossemos nós a nos mexer? A ir em direcção uns aos outros?
Não chegará de música de elevador (ou neste caso metro)? Não?

Balancê - Sara Tavares


Há músicas que nos surpreendem, que nos maravilham, que nos transformam, que nos aproximam.
Duas coisas:
Ela é a prova viva que a música hoje é do mundo e que o mundo é da música.
Se eu soubesse cantar gostava de ser a Sara Tavares.

PS: CD cá vou eu comprar-te
PS2: Visitem www.saratavares.com

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2006

A Corrida de Canoa

Era uma vez a equipa portuguesa de canoagem, que pertencia a uma sociedade portuguesa.
Uma sociedade portuguesa e outra japonesa decidiram desafiar-se todos os anos numa corrida de canoa, com oito homens cada.
As duas equipas treinaram duramente, e quando chega o dia da corrida cada equipa estava no melhor da sua forma. No entanto os japoneses venceram com mais de um quilómetro de vantagem.
Depois da derrota, a equipa estava desanimada. O director Geral decidiu que no ano seguinte deveriam ganhar e por isso criou um grupo de trabalho para examinar a questão.
Depois de vários estudos, o grupo descobriu que os japoneses tinham sete remadores e um capitão.
No entanto, a equipa portuguesa só tinha um remador e sete capitães.
Face à situação de crise, o Director Geral fez prova de grande sabedoria: contratou uma empresa de auditoria para analisar a estrutura da equipa portuguesa.
Depois de longos meses de trabalho, os especialistas chegaram à conclusão de que na equipa havia capitães a mais e remadores a menos. Com base no relatório dos especialistas, foi decidido mudar a estrutura da equipa.
Haveria agora quatro comandantes, dois supervisores, um chefe dos supervisores, e um remador. Concluindo, introduziram-se uma série de novas medidas para motivar o remador: “Devemos melhorar o quadro de trabalho, motivá-lo e atribuir-lhe mais responsabilidade”.
No ano seguinte os japoneses venceram com dois quilómetros de vantagem.
Os responsáveis da sociedade despediram o remador por causa dos maus resultados no seu trabalho.
No entanto foi entregue um prémio aos restantes membros recompensando-os pela forte motivação que incutiram na equipa.
O director Geral prepara uma nova análise da situação, na qual fica demonstrado que foi escolhida a melhor táctica, que a motivação era boa mas que o material devia ser melhorado.
Neste momento estão a ponderar a substituição da canoa.

A pedido de um dos meus tios coloquei aqui o texto que me enviou num Power Point e que comento de seguida:

EM PORTUGAL
Primeiro: trabalha-se de menos, manda-se de mais;
Segundo: gastamos fortunas em coisas que não interessam para nada, e que não resolvem os problemas;
Terceiro: o pior cego é quem não quer ver.

Como já disse várias vezes o sucesso resulta, em minha opinião, de 95% de esforço, e 5% de criatividade.

PS: Espero comentários...

terça-feira, 7 de fevereiro de 2006

Só um conselho


Tenho estado a ouvir um grande compositor e cantor que vos convido a descobrir. Vale mesmo a pena:

http://www.jackjohnsonmusic.com

Cruzadas do século XXI?

Olho com alguma preocupação para as notícias que têm surgido nos últimos tempos. A forma como os media têm caracterizado os conflitos ocidente-oriente e a forma como os países e, mais em concreto, os indivíduos têm encarado esta problemática.

Em primeiro lugar, tenho de deixar bem claro que, para mim, tanto as caricaturas, que ainda não vi, como os actos de violência consequentes são de extrema gravidade e de igualdade influência nesta tensão crescente.

Tenho lido e visto muitas coisas nos meios de comunicação sobre a problemática, mas preocupa-me sinceramente a forma como as notícias continuam a ser vinculadas. Com apelos mais ou menos subliminares à violência, à raiva, ao ódio e ao separatismo.

Vivemos todos no mesmo planeta. Não tenho dúvidas disso, e julgo que ninguém as terá. No entanto, mesmo vivendo num planeta tão “pequeno” continuamos a julgar, analisar e agir, de acordo apenas com a nossa visão e perspectiva sem perceber uma verdade que parece universal: existem realidades, perspectivas, fés e comportamentos que não entendemos. Que pertencem a outro enquadramento social, cultural, religioso, onde coisas têm pesos diferentes. E sempre foi assim entre cristãos e muçulmanos.

Para os de memória curta, relembro-vos que há alguns anos atrás um programa de Herman José foi retirado do ar porque “brincava” com figuras históricas e religiosas. Alguns anos mais tarde, o cartoon do Papa e do preservativo trouxe ao de cima mais uma polémica. Além disso, por todo o país há histórias de violência associada a questões religiosas. Seremos assim tão diferentes?

Por outro lado, em França, um país ocidental, tivemos demonstrações de como um problema racial pode tomar proporções incontroláveis. Um exemplo de como a autoridade política, policial e até religiosa é incapaz de deter um crescendo de violência. Seremos assim tão diferentes?

Claro que toda a violência é reprovável. Sob qualquer perspectiva, mas por essa mesma razão temos de agir de forma responsável. E quanto mais audiência tiver a nossa mensagem, maior o cuidado que temos de ter. Os media têm então que equacionar essa questão com rigor. Perceber o mundo em que vivemos e a consequência dos actos e das palavras.

Sinto que vivemos numa pré-cruzada. Tenho a clara sensação do rastilho que se encontra acesso. Uma palavra no sítio “certo” poderá atear uma fogueira sem fim.

E não somos melhores ou piores que os muçulmanos. Somos diferentes. Não podemos avaliar, medir ou catalogar as civilizações sobre a nossa bitola. Temos de criar um quadro de valores universal onde possamos medir as sociedades, mas com valores e perspectivas tanto ocidentais como orientais.

Para nós parece ridículo a violência por causa da liberdade de expressão. Para os muçulmanos é inacreditável que a liberdade de expressão ofenda a sua fé e os seus valores.

O pedido que aqui deixo é particularmente dirigido aos meios de comunicação social. Sejam responsáveis. Sejam sérios e ponderados. Nem tudo é justificável para se conseguir audiências ou vendas. Há limites, principalmente se não queremos uma Terceira Guerra Mundial.

Tolerância, respeito e paz.

As notícias

Jack Johnson
"The News"

A billion people died on the news tonight
But not so many cried at the terrible sight
Well mama said
It's just make believe
You can't believe everything you see
So baby close your eyes to the lullabies
On the news tonight

Who's the one to decide that it would be alright
To put the music behind the news tonight
Well mama said
You can't believe everything you hear
The diagetic world is so unclear
So baby close your ears
On the news tonight
On the news tonight

The unobtrusive tones on the news tonight
And mama said

Why don't the newscasters cry when they read about people who die?
At least they could be decent enough to put just a tear in their eyes
Mama said
It's just make believe
You cant believe everything you see
So baby close your eyes to the lullabies
On the news tonight


Jack Johnson
"As Notícias"

Morreu um bilião de pessoas nas notícias esta noite
Mas nem tantas choraram com esse terrível suspiro
Bem, disse a mãe,
É apenas faz de conta,
Não podes acreditar em tudo o que vês
Vá bebé fecha os teus olhos para as histórias de embalar
Nas notícias esta noite

Quem é que decide que se pode
Colocar música por detrás das notícias esta noite
Bem, disse a mãe,
Não podes acreditar em tudo o que ouves
O mundo "diagético" é tão confuso
Por isso bebé fecha os teus ouvidos
Nas notícias esta noite
Nas notícias esta noite

Os tons desobstruídos nas notícias esta noite
E a mãe disse

Porque é que os apresentadores não choram quando leêm acerca de pessoas que morrem?
Pelo menos, poderiam ser decentes o suficiente e colocar apenas uma lágrima nos olhos
A mãe disse
É apenas faz de conta
Não podes acreditar em tudo o que vez
Por isso bebé, fecha os teus olhos às histórias de embalar
Nas notícias esta noite