quinta-feira, 29 de maio de 2008

A nossa Assembleia

Sentada num dos bancos reservados aos comuns dos mortais, na Assembleia da República, observo uma enorme bancada vazia que se localiza num plano superior.
Olho para baixo e, mesmo aos meus pés, vejo Manuel Alegre, que está acompanhado por não sei quem. A sua secretária está recheada de jornais e papelada.
No outro extremo da sala, vejo uma senhora vestida, elegantemente, de amarelo. Está sentada na sua cadeira a fazer grandes balões com a sua pastilha elástica.
Mais ao centro, está um senhor esparramachado numa cadeira que mal o suporta. Escusado será dizer que está na sua posição favorita para dormir.
Noutro lugar, estão duas senhoras a falar alegremente, as escrivãs que depressa retornam ao trabalho.
No enorme círculo, para não o chamar de circo, entram e saem pessoas com grande pressa de assinar o livro de presenças e ir embora.
A senhora de amarelo decidiu comer chocolate. Na sala, a tensão é enorme, para aqueles que estão interessados. Esses são os da frente, aqueles que são apanhados pelas câmaras de filmar. Convém dar uma boa imagem deste local de negociações.
Há um senhor que pede qualquer coisa que lhe é trazida num copo transparente. O líquido que contém é escuro. Será café? Será vinho?
E daqui observo como este mundo é tão ridículo e tão efémero. Parece uma telenovela!

Ana Filipa Silva - 1997/1998

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