quinta-feira, 1 de setembro de 2005

Sobre as Presidenciais e o Bochechas

Não posso deixar de fazer alguns comentários sobre o que se está a passar, no nosso país, relativamente às presidenciais.

Antes que pareça demasiado parcial gostaria de vos informar que sou um homem de esquerda, que acredito nos ideais da liberdade, da justiça social, e do direito ao trabalho, à saúde, à integração social e à felicidade.

Em primeiro lugar, gostaria de fazer alguns comentários sobre a minha reflexão: acho que independentemente do que aconteceu antes deste anúncio, quer tenha dito que sim ou que não, quer tenha sido a favor ou contra, é pouco relevante para a situação presente: daqui a alguns meses teremos de escolher o presidente do nosso país, e para mim, independentemente do meu gosto pessoal, só poderão sair dois vencedores (pela própria natureza da democracia): Cavaco Silva ou Mário Soares (e sim estou a presumir que Cavaco se irá candidatar), e essa deverá ser a maior reflexão dos portugueses.

Em segundo lugar, não podemos confundir as presidenciais com as autárquicas e neste momento estas últimas serão as eleições em que teremos de escolher, decidir, participar. (brevemente farei um comentário sobre elas)

No confronto entre Mário Soares e Cavaco Silva sou completamente a favor do primeiro. Explico-vos porquê:

Acho que a escolha que Soares fez é muito difícil e só a ingenuidade de algumas pessoas poderá levar ao pressuposto que o faz por capricho, vaidade ou orgulho. Um homem de 81 anos, com a sua carreira, com os cargos que já desempenhou, com a estabilidade financeira e familiar não tem mais de provar nada a ninguém.

Por outro lado, sem conhecer a sua vida privada, estou certo que a grande maioria dos familiares e amigos próximos lhe terão recomendado não o fazer, te-lo-ão pressionado para não o fazer, para deixar a sua carreira política por uma mais académica e tranquila, para deixar os trabalhos duros da política activa.

Acho que só mesmo o seu sentido cívico, o amor pelo seu país e a sua dedicação o levaram a tomar esta decisão, mesmo contra aqueles que lhe são mais próximos.

Por outro lado, nunca vi o nosso país no estado em que agora se encontra. Nunca vi, também só tenho 31 anos, uma crise económica tão prolongada, tantos problemas sociais (desemprego, endividamento, desilusão) como agora. Além disso, acho que vivemos num país do “põe a culpa no outro” e “tá sempre tudo mal”.

Sei que passamos momentos difíceis e também os sinto pessoalmente, mas também sei que somos pessimistas, que somos preguiçosos, e que adoramos intrigas e falsas questões para podermos debater: filosofia de café (chama-lhe uma boa amiga). Acho que olhamos para o nosso país com desencanto, com tristeza, com um olhar de quem vê tudo mal. Mas temos crescido tanto! Mas somos nós os obreiros do nosso país!

Por esta razão a candidatura de Mário Soares tem sido fonte dessa mesma malícia e desencanto: “É velho demais!”; “Mentiu quando disse...”; “Até já anda a trair os seus amigos!”

Independentemente da veracidade ou não das críticas que lhe são feitas, a pergunta que temos de fazer é outra. Todas estas questões são fruto da intriga política, são fruto de interesses mediáticos de ocupar manchetes, fazer notícias, arranjar patrocínios.

A pergunta que tem de fazer é: quem será melhor presidente? Quem melhor representa o país? Quem melhor garante a defesa dos nossos interesses quando confrontados com a constituição? Quem melhor nos representara internacionalmente? Quem melhor respeita as diferenças, os interesses de todos nós?

Se tiver que escolher entre Cavaco Silva e Mário Soares, eu escolherei sempre o Bochechas.

Para mim Soares é FIXE!

PS: Não se esqueçam: “Não perguntem o que o país pode fazer por vocês, mas sim o que podem fazer pelo vosso país!”

4 comentários:

  1. Dois argumentos a desfavor do voto em Mário Soares para a Presidência da República, um relativo à política interna, o outro à política externa. Começo pelo primeiro.

    Apesar de o programa de Governo PS ter declarado grande seriedade e contenção na gestão das contas do Estado e de ter tomado algumas medidas importantes para conter a Dívida Pública, o afastamento de um Ministro das Finanças que se opôs à construção do novo Aeroporto Internacional da Ota, considerado extemporâneo do ponto de vista macroeconómico e tecnicamente duvidoso, leva-me a pensar que o próximo Presidente da República poderá assumir um papel pedagógico muito importante ao nível da consciencialização da opinião pública para assuntos de vital interesse nacional como o referido. Tudo leva a crer que Soares não será o candidato mais preparado para o fazer.

    No que toca à política externa, Mário Soares “vestiu a camisola” confortável e atraente da anti-globalização, cujo maior adversário e alvo político são os EUA liderados por G. W. Bush. Independentemente da proximidade ou distância que sentimos relativamente à política do Presidente “texano”, é incontestável que a relação Atlântica mantida entre Portugal e os EUA sempre fortaleceu a nossa força diplomática junto de uma Europa que nos olha como bastardos, encostados que estamos à margem geográfica, financeira, económica, industrial, etc… Por essa razão, um Presidente mais atento às vantagens que continuam a advir de uma “amizade” mantida com os EUA e Inglaterra será, como sempre foi, mais útil a Portugal. Tudo leva a crer que Soares não será o candidato mais preparado para o fazer.

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  2. Há muitas razões para se querer votar em alguém numa votação presidencial. Razões mais racionais, razões mais emocionais, ou mesmo qualquer razão sem aparente razão de ser. Votarei, em princípio, em Mário Soares. Não porque tenha um conjunto muito informado e reflectido de razões, mas porque vejo nele uma figura irreverente, inteligente e sabiamente intuitiva. E porque tenho a convicção de que age políticamente em função daquilo que acredita ser o melhor para o país.

    Será, se for eleito, um presidente assumidamente próximo das pessoas. Será enérgico de espírito, mesmo que o corpo já não lhe permita gritar tão alto como antigamente. E será aquilo que sempre foi, um homem que acredita que tem um projecto, e continua a acreditar aos 80 anos e isso é muito bonito.

    O seu posicionamento relativamente a questões políticas fundamentais agrada-me, e não tem pudor em dizer o que pensa. Contra a globalização económica, em nome da justiça social; contra a apatia política, em nome da responsabilidade social; contra um eixo bélico e agressor, em nome da procura da integração. A favor de uma democracia viva e atenta, em nome das pessoas; a favor de bens públicos essenciais, como a água, em nome da capacidade de partilha; a favor de um diálogo amplo, em nome da inteligência colectiva.

    É certo que Soares não é um executivo por natureza, e quando assumiu essas funções, não o fez com a qualidade que se exigia. Mas é um politico apaixonante e motivador. Cavaco, que será a provável alternativa, pareceu-me um bom executivo. Mas não transparece qualquer crença num país inovador, e saiu das suas funções executivas com um sabor amargo de desilusão que nunca achei que tivesse sido capaz de adocicar.

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  3. Eu não votarei. Ponto. A monarquia terminou em 1910. Cada pessoa tem o seu momento, o seu tempo. Em dez milhões não encontram ninguém mais motivador?

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  4. Respeito as vossas posições, e acho realmente que estas decisões são de cariz, a maior parte das vezes, mais emocional que racional. Por isso aprecio o debate de ideias e respeito as escolhas de cada um.

    Votar neste, ou naquele, em branco ou nulo.

    Não votar, isso já me custa mais, porque como já o disse, somos todos responsáveis e por isso temos a obrigação civil de nos apresentar nas eleições e de efectuar a nossa escolha. Esse será, por ventura, a nossa maior responsabilidade.

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